São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2010

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Música 'nas nuvens' é desafio para gravadoras

BRAD STONE
ENSAIO

O iPad da Apple, que chegará ao mercado no próximo dia 3, vai acessar vídeos, aplicativos e sites da web sem a necessidade de cabos ou fios. Mas, para transferir sua antiga coleção de músicas para esse gadget, você terá de pegar um cabo USB, conectar o aparelho ao seu PC e transferir os arquivos de música.
A coisa piora quando você compra uma música no iPad e quer que ela também possa ser ouvida em seus outros dispositivos. A Apple provavelmente poderia dispensar a ideia de sincronização, se tivesse o tipo de serviço de música na internet que todo o mundo espera, mas que ainda não pegou: o que os entendidos em tecnologia chamam de música na nuvem.
Esse serviço permite que as pessoas armazenem suas coleções de música na web e depois escutem as canções, via streaming, em qualquer computador, telefone, "tablet" ou na próxima onda de rádios ligados à web.
Mas a indústria da música deve primeiro estabelecer termos de licenciamento práticos e acessíveis com as empresas tecnológicas.
Michael Robertson, empresário de música on-line, diz que não acredita que esses acordos de licenciamento sejam possíveis. Em 2000, sua antiga empresa, a MP3.com, abriu um serviço em que as pessoas podiam tocar canções na web se pudessem provar que eram suas proprietárias. O site, que resolveu processos abertos pelas grandes gravadoras, acabou sendo adquirido pela Vivendi Universal.
"A indústria da música quer que os consumidores paguem mais", disse Robertson. "Ela considera uma cópia na nuvem, que é tocada diversas vezes, essencialmente uma canção que foi comprada diversas vezes."
Robertson hoje dirige um serviço chamado MP3tunes. Os clientes que têm a paciência de enviar suas músicas digitais para seus servidores -os primeiros 2 gigabytes de armazenamento são gratuitos- podem, então, tocar a música em qualquer computador, iPhone ou dispositivo Android, e até em uma seleção de rádios da internet e no Nintendo Wii.
Há só um problema, no entender das gravadoras. Como Robertson está apenas dando aos consumidores uma maneira de escutar a música que já possuem, ele nunca pensou que precisasse de licença das gravadoras. (Ele cita a Lei de Direitos Autorais do Milênio Digital, que permite que os consumidores façam cópias digitais do material que possuem.) Mas a gravadora EMI processou a MP3tunes em 2007 por causa dessa abordagem. O caso está pendente.
Executivos de Warner Music, Universal Group e Sony dizem estar dispostos a oferecer condições de licenciamento razoáveis para a música na nuvem. "Estamos esperando a próxima onda de inovação para melhorar a qualidade do serviço que os consumidores recebem de ofertas de música legítimas", diz um executivo que não quis se identificar.
O último obstáculo para essa visão é a questão da interoperabilidade. A música armazenada nos servidores de uma empresa deve tocar em telefones e dispositivos feitos por outra.
Mas vai tocar? A Apple pretende levar as coleções individuais dos usuários do iTunes para a nuvem no final deste ano. Considerando que o negócio da Apple se baseia em vender seu próprio hardware, é provável que a companhia recuse permitir que os consumidores transfiram música para, digamos, telefones Android.
"Dentro de dois anos, virão da Ásia aparelhos de US$ 30 que se conectarão diretamente à nuvem", disse Robertson. "Vencerá o sistema de música que permitir que esses dispositivos interajam livremente com a mídia."


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