São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Cingapura cria seu 1° aterro em alto-mar

Por LINDSEY HOSHAW

Cingapura talvez tenha o único aterro sanitário com uma lista de espera de quatro meses para visitá-lo. Mas esse aterro é uma ilha artificial que parece uma reserva natural, apesar das 8,9 milhões de toneladas de lixo incinerado que estão logo abaixo da superfície.
A escassez de terra em Cingapura -sua área total tem menos de 700 quilômetros quadrados- levou o governo a desenvolver técnicas inovadoras de tratamento de lixo. Entre elas está uma ilha ao sul do território principal que foi aberta depois que o último depósito de lixo da cidade fechou, em 1999. Juntando duas pequenas ilhas, o governo criou o depósito de Semakau, o primeiro aterro sanitário em alto-mar de Cingapura, hoje um local de passeio muito procurado.
A instalação de US$ 360 milhões inclui um dique marítimo de 7 quilômetros de comprimento e uma geomembrana de polietileno que reveste a periferia da ilha para evitar vazamentos. O lixo incinerado no continente chega em barcaças, e a cinza úmida é esvaziada em poços, ou "células", que mais tarde são cobertos com terra, onde as plantas crescem naturalmente.
Ministros do Meio Ambiente da Nova Zelândia, do Japão e de Samoa vieram se inspirar para suas práticas de gestão de lixo.
Os aterros renovados para uso público não são novidade.
Em Nova York, o aterro de Fresh Kills será reaberto como parque por volta de 2035. Em 1994, o Japão transformou um antigo aterro a sudoeste de Osaka no Aeroporto Internacional Kansai, o primeiro aeroporto oceânico do mundo.
Mas o aterro de Semakau é o único ativo que recebe lixo incinerado e industrial enquanto sustenta um ecossistema pujante, que inclui mais de 700 tipos de plantas e animais e diversas espécies ameaçadas. "Queremos manter esse equilíbrio pelo maior tempo possível", disse Ong Chong Peng, o gerente geral responsável pelo aterro.
Espécies protegidas como garças de bico longo e batuíras da Malásia se aninham aqui, e os golfinhos brancos ameaçados da China foram vistos no litoral. E Semakau é o único aterro ativo que incentiva visitas públicas.
Este ano, o lado leste da ilha deverá ser desenvolvido e poderá começar a aceitar lixo no início de 2015. A Agência Nacional do Meio Ambiente, que mantém o local, prevê que o aterro ficará aberto pelo menos até 2045.
Os pescadores vêm durante o dia e os astrônomos, à noite. Caminhadas na maré baixa, que são populares entre grupos de estudantes e outros, são agendadas quase o ano inteiro.
Um casal até posou para fotos de casamento lá em 2007.
O governo de Cingapura se gaba do sucesso de Semakau citando o crescente número de visitantes, que triplicou nos últimos cinco anos, chegando a 13 mil em 2010. A Agência Nacional do Meio Ambiente diz que o sistema de aterro único reduz o volume do lixo em 90%, e que 2% da energia de Cingapura são gerados por quatro incineradores no continente.
Mas os críticos questionam a gestão do lixo que depende completamente da incineração. Os incineradores em grande escala têm períodos de vida curtos, e às vezes precisam ser substituídos após apenas dez anos.
"O Greenpeace é contra a incineração de lixo porque é uma grande fonte de substâncias cancerígenas como dioxina, além de outros poluentes prejudiciais", disse Tara Buakamsri, diretora de campanhas do Greenpeace para o Sudeste Asiático. "Os aterros sanitários e a incineração são técnicas importantes em todos os países da região, mas essas práticas criaram problemas sociais e ambientais."
Houve protestos na Malásia e na Indonésia por causa de planos do governo de construir novos incineradores, e os filipinos os proibiram em 1999 por causa dos riscos para a saúde.
Também existe um pequeno risco de que o lixo possa vazar. Medidas de proteção "em última instância falham, representando um risco para as futuras gerações", disse Scott Kaufman, gerente nos EUA do Carbon Trust, um grupo britânico sem fins lucrativos que busca ajudar empresas a cortar as emissões de carbono.
Autoridades ambientais dizem que a TÜV SÜD, uma firma internacional de inspeções, testa a água ao redor por metais pesados todos os meses. Estão confiantes que o aterro será capaz de comportar lixo por décadas.


Texto Anterior: Segredos do câncer começam a ser desvendados
Próximo Texto: Curso online de inteligência artificial atrai 58 mil alunos

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.