São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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Um planeta sedento

Algumas das imagens mais marcantes da Grande Depressão vieram de Estados ressequidos das pradarias americanas, onde a terra árida forçou famílias de agricultores a fugir em busca de empregos e sustento. A situação desesperadora inspirou as baladas de Woody Guthrie sobre o "Dust Bowl" e o livro "As Vinhas da Ira", de John Steinbeck.
O "Dust Bowl" (taça de pó) foi desencadeado por anos de práticas agrícolas destrutivas e de seca. Mas seus efeitos devastadores intensificaram os estragos causados pelo colapso econômico maior. Algo semelhante acontece em todo o mundo hoje. Secas persistentes da Austrália ao Afeganistão e da Espanha à Argentina se somam à recessão global para dificultar a vida de agricultores e pecuaristas.
No norte da China, como Michael Wines relatou no "New York Times", a pior seca em meio século está devastando uma região responsável por 65% da produção agrícola do país. Zheng Songxian, plantador de trigo, disse que prevê perder pelo menos um terço da colheita este ano. "Se não chover até maio, acho que não vou poder colher nada", acrescentou. (Autoridades chinesas disseram que a seca não terá forte impacto sobre a produção total de grãos.)
Uma séria escassez de água também afeta todo o oeste dos EUA. No vale central da Califórnia, região fortemente agrícola, o desemprego já chega a 35% em cidades como Mendota. "Minha comunidade está morrendo", disse o prefeito da cidade, Robert Silva, ao "New York Times". No hemisfério sul, a pior seca em gerações está espalhando estragos em Argentina, Uruguai, Paraguai e partes do sul do Brasil. Pecuaristas argentinos já perderam estimado 1,5 milhão de cabeças de gado, disse ao "New York Times" Ernesto Ambrosetti, economista da Sociedade Rural Argentina.
Não há provas claras, mas muitos cientistas avisam que a ocorrência mais frequente de secas é uma consequência provável do aquecimento do planeta. Para fazer frente a essa possibilidade, pesquisadores tentam desenvolver espécies que possam crescer com pouca água, disse Andrew Pollack no "New York Times". A Monsanto, produtora de sementes geneticamente modificadas, anunciou no ano passado que suas primeiras variedades de milho resistente a secas estarão no mercado em quatro anos. Pelo fato de utilizar a modificação genética, o trabalho da Monsanto é alvo de controvérsia.
Críticos da empresa, como a Aliança para uma Revolução Verde na África, dizem que a resistência a secas pode ser reforçada com o uso de sementes à maneira convencional. Em alguns lugares, porém, há quem lide com o velho problema da seca de forma igualmente antiga.Como escreveu Jesse McKinley no "New York Times", alguns californianos ainda recorrem a rabdomantes -especialistas também chamados de "bruxos d'água", que usam um galho de árvore em formato de Y e, dizem, sua habilidade intuitiva para detectar a presença de água sob a terra.
O agricultor Frank Assali, da Califórnia, contratou os serviços do rabdomante Phil Stine. "Phil sabe encontrar água, sem dúvida", disse Assali. Para quem tem esse dom, trabalho é algo que não deve faltar.


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