São Paulo, segunda-feira, 30 de novembro de 2009

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Recessão prejudica vendas de champanhe

Por DOREEN CARVAJAL

ÉPERNAY, França - A ameaça de calamidade tem sido companheira constante de gerações de produtores de champanhe na França, quer seja por congelamentos no inverno, geadas na primavera, parasitas filoxera ou a ocupação nazista.
Acrescente-se à lista, agora, uma queda nas vendas de champanhe em todos os principais mercados de exportação, especialmente EUA, Reino Unido e Japão. Nos últimos anos, todos pareciam ter sede insaciável do delicado e extravagante borbulhar da champanhe -até chegar a recessão.
Os grandes nomes da região de Champagne -Moët & Chandon, Perrier-Jouët e Piper-Heidsieck- afirmam não estar preocupados, agora que estamos na temporada do fim de ano: do final de novembro até o Ano-Novo, quando os produtores costumam vender milhões de garrafas e acumular a maior parte de seus lucros anuais.
Até agora, os varejistas nos EUA vêm oferecendo descontos modestos sobre a champanhe que vendem, mas os maiores descontos podem ser encontrados nos produtos mais caros. A Sherry-Lehmann Wine and Spirits, grande varejista de Nova York, está oferecendo uma garrafa de Veuve Clicquot La Grande Dame 1998, em embalagem para presente, por US$ 130 na temporada natalina. No catálogo da mesma época do ano passado, a mesma garrafa custava cerca de US$ 150.
Mas Jon Fredrikson, da Gomberg, Fredrikson & Associates, empresa da área da baía de San Francisco que presta consultoria à indústria de vinhos, disse que é provável que os varejistas estejam aguardando o início da temporada de fim de ano para decidir se reduzem ou não os preços de suas marcas mais caras.
Em outros países, os grandes descontos já começaram. Um grande varejista britânico está oferecendo garrafas de Moët & Chandon e Veuve Clicquot por dois terços do preço (US$ 41,69) para quem compra duas garrafas. Na Austrália, teve início uma guerra de preços entre os maiores varejistas de vinhos e destilados.
Mesmo na França, o maior mercado mundial de champanhe, a rede Carrefour pretende vender champanhe por menos de dez euros (R$ 26) no fim do ano. Um ano atrás, as mesmas garrafas eram vendidas por 12 euros.
A indústria da champanhe, que cultiva imagem de luxo e glamour, é oficialmente cautelosa em relação a descontos e pechinchas. "Somos produtores artesanais. Para mim, não é interessante falar no mercado ou em preços", disse Pierre-Emmanuel Taittinger, presidente da Champagne Taittinger, em Reims, no nordeste da França.
"Não vendemos perfume, sabonete ou carros. Meu trabalho é encontrar um milhão de amigos em todo o planeta que tomam cinco garrafas de champanhe por ano." Mas não há dúvida de que alguma coisa começou a acontecer nas profundezas das adegas à medida que as vendas de champanhe ao exterior foram perdendo força, nos primeiros nove meses deste ano.
A queda no Reino Unido foi de 33%, para 12,2 milhões de garrafas. As exportações para os EUA caíram ainda mais: 43%, para 4,56 milhões de garrafas.
A Moët & Chandon, líder no mercado americano, está oferecendo por 300 euros (R$ 771) uma "caixa de comemoração" que inclui uma garrafa extra-grande de Moët Imperial, taças de champanhe e medalhões com cristais Swarovski coloridos dentro de bolhas douradas.
"Acreditamos que a champanhe é necessária em tempos difíceis", disse Marc Jacheet, diretor da Moët & Chandon. "Não queremos travar uma batalha de preços. Vendemos com desconto, sim, mas de modo seletivo e razoável. Mais do que isso, acreditamos na importância de fornecer rituais."
Uma das marcas comercializadas pelo Grupo de Champanhe Boizel Chanoine, a Champagne de Venoge, reagiu à crise aumentando sua distribuição a uma gama maior de países. Outra, a Champagne de Philipponnat, elevou seu preço médio neste ano em cerca de 3%, para 27,50 euros.
"A maior parte do marketing está dentro da garrafa", disse Charles Philipponnat, que comanda a empresa a partir de uma vinícola do século 18 em Mareuil-sur-Ay. Sua família produz vinhos há muitas gerações.
As linhas de cobre descascadas que percorrem a vinícola são resquícios deixados por soldados franceses que, na Primeira Guerra Mundial, improvisaram linhas telefônicas no subsolo protegido da vinícola.
"Passamos por meio século de crise. Primeiro a crise da filoxera, que destruiu os vinhedos, e depois a Primeira Guerra. Então foi a vez da Grande Depressão, e, logo depois, da Segunda Guerra", disse Philipponnat. "Isso nos deve ajudar a enxergar a crise atual na perspectiva correta."


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