São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

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DIÁRIO DE GSTAAD

Suíça estuda destino de fortalezas envelhecidas


No passado, as fortificações protegiam o país contra ataques estrangeiros

Por CHRISTOPHER SOLOMON

GSTAAD, Suíça - A aparência da montanha não era normal. Vista de perto, sua fachada rochosa, com sua maquiagem gasta de tinta de camuflagem que não parecia ter sido retocada desde a Guerra Fria, era pouco convincente. O guarda também parecia deslocado, montando sentinela em uma clareira silenciosa nas proximidades desta estação de esqui suíça que é mais conhecida por seus frequentadores bilionários.
A estranheza estava apenas começando. O guarda pressionou alguns botões, e uma porta desgastada se abriu na montanha. Lá dentro, ao final de uma caverna estreita, havia uma segunda porta espessa que levava a mais uma porta, esta pesando 3,2 toneladas métricas e com jeito de porta de um cofre-forte bancário.
Christoph Oschwald estava conduzindo uma visita ao que ele descreve como o Fort Knox suíço -um de dois antigos bunkers militares nas entranhas dos Alpes que Oschwald e seu sócio, Hanspeter Baumann, arrendam das forças armadas suíças. No lugar onde, no passado, oficiais se preparavam para defender seu país, Oschwald e Baumann hoje afirmam operar alguns dos bancos de servidores de computador mais seguros do mundo.
Pena que as forças armadas não conseguem encontrar outros inquilinos como Oschwald.
Ao custo de milhões de euros por ano, elas mantêm um sistema de cerca de 26 mil bunkers e fortificações espalhados pelos Alpes e cuja finalidade original era deter ataques.
Hoje, porém, sendo um país neutro que não enfrenta ameaças a suas fronteiras, a Suíça está fazendo um exame de consciência prolongado sobre o papel de sua força militar. No final de 2010, o ministro da Defesa, Ueli Maurer, desencadeou uma tempestade ao sugerir que já era hora de ter uma "discussão franca" sobre a possibilidade de fechar a maioria dos bunkers ou convertê-los para outros usos.
"Nossa posição é que, enquanto a Suíça estiver engajada fora do país, enfraquecer o sistema de defesa de nosso país está fora de questão", disse Ulrich Schlüer, do Partido do Povo da Suíça.
Os bunkers e outras fortalezas ocupam um lugar especial na história suíça. O primeiro foi construído em 1885, e eles foram um elemento-chave de defesa na Segunda Guerra Mundial e, novamente, durante a Guerra Fria. Mas os tempos mudaram.
"Eles são inúteis", opinou Christian Catrina, chefe de política de segurança do Departamento federal de Defesa, Proteção Civil e Esportes.
Há anos o governo vem conservando os bunkers sem usá-los; hoje, alguns abrigam museus e um "hotel zero estrelas". Mas as forças armadas esperam acelerar esse processo.
Fechar os bunkers custaria caro -730 milhões de euros ou mais, estimou Maurer-, e esse custo ultrapassa os milhões necessários para sua manutenção anual.
Oschwald conduziu um visitante num giro por um bunker resistente a explosões nucleares. Suas empresas gastaram milhões para modernizá-lo para que pudesse servir de banco de servidores.
Será que um amontoado de uns e zeros realmente justifica a proteção de um bunker nuclear?
"Hoje, os dados são tudo", respondeu Oschwald, e não apenas para empresas. Ele contou que um bilionário casado guarda sua "cadernetinha preta" eletrônica nos servidores. Se alguém pusesse suas mãos sobre esse caderno, observou, isso lhe custaria milhões.


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