São Paulo, domingo, 02 de julho de 2000


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Sair falando coisas

A identificação de um empresário que teria tentado subornar o ex-secretário municipal da Saúde José Aristodemo Pinotti deu alento, nos jornais de sexta-feira, ao caso das denúncias de corrupção no PAS feitas à Folha por Pinotti e pelo vice-prefeito Regis de Oliveira. A história vinha definhando.
O primeiro em artigo e o segundo em entrevista, ambos haviam afirmado ao jornal ter recebido propostas desse tipo no período em que Celso Pitta esteve afastado da prefeitura por decisão da Justiça.
De acordo com eles, os autores queriam, em troca, que fosse mantido o modelo do PAS, ao qual estão associadas irregularidades de toda ordem.
A manchete com a acusação do vice ("Tentaram me subornar, diz Regis") saiu no sábado, 24, um dia depois da publicação do artigo de Pinotti.
De saída, o jornal teve de reconhecer que, não obstante o impacto das afirmações, nenhum dos dois dispunha de provas.
Isso não impediu que o Ministério Público considerasse as denúncias "graves" e recebesse lugar de destaque, na edição de domingo passado, para anunciar a decisão de apurá-las.
Assim, não entendi o termo usado na Folha de quarta-feira, na qual se lia que Pinotti "frustrou" a expectativa dos promotores ao não apresentar, em seu depoimento, "provas da suposta tentativa de suborno".
Como "frustrou", perguntei na crítica interna, se o próprio jornal havia deixado claro, desde o início, que prova não havia?
Do entusiasmo de domingo, o Ministério Público migrou para a advertência de que "não se pode sair por aí falando coisas que podem comprometer outras pessoas".
Também as declarações do ex-secretário foram mudando de tom. Na sexta-feira, em longa entrevista à Folha, ele manteve as críticas ao PAS (uma "máquina de matar"), mas se queixou da mídia (sempre ela).
Por quê? "Afunilou o conjunto do que eu tenho declarado à tentativa de suborno, que na realidade é um episódio importante, mas não é nem de longe o principal."
Bem, no dia em que o jornal considerar secundária uma afirmação como "secretaria e secretário tinham preço" (referência à gestão de Jorge Pagura no artigo de Pinotti), estará em situação mais terminal que a do sistema de saúde do município.
Não pretendo, com estas observações, sugerir que a Folha devesse ter dado menos atenção ao caso. Atenção ele merece toda.
Penso apenas que o episódio é exemplo da corda bamba em que o jornal tem de se equilibrar quando declarações são seu único esteio, e elas começam a escapar.

Estarei em férias nas próximas duas semanas. Nesse período, casos que necessitem de providência urgente serão levados ao conhecimento da direção do jornal por Rosângela, secretária do Departamento de Ombudsman. Responderei às demais mensagens a partir do dia 17. Esta coluna voltará a ser publicada no dia 23.


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