São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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Lula e a Globo

Um tema "quente" da semana foi a exclusividade dada pelo presidente eleito à maior rede de TV do país na noite de domingo (entrevista ao "Fantástico") e na segunda-feira (mais de uma hora no "Jornal Nacional").
A parceria só se ampliou na quinta-feira, com a participação de Lula em dois programas da TV Record.
Pode-se criticar o tom excessivamente emotivo e laudatório do material apresentado pela Globo e até especular sobre suas eventuais motivações extra-jornalísticas. Mas sua busca pela exclusividade -dever de todo órgão de imprensa- não está em questão.
A rigor, quem deve explicações é o presidente eleito.
Por que, rompendo toda lógica pública, não convocou antes de mais nada uma entrevista coletiva, para depois dar exclusivas?
Pensar nessa atitude como revide contra veículos que Lula possa julgar terem sido prejudiciais à sua campanha me parece primário, lógica juvenil à qual ele próprio, creio, não se submeteria.
Se o acordo com a Globo aconteceu antes ou depois da votação, é secundário. O problema é o acordo em si.
As dificuldades financeiras das empresas de mídia -com destaque para as Organizações Globo, com uma dívida bilionária- têm sido reveladas, ainda que bem menos do que o desejável, pela própria imprensa.
Fala-se na possibilidade de uma "ajuda" direta do governo ao setor, ajuda que deu passos concretos, indiretamente, com a regulamentação da entrada do capital estrangeiro por meio de medida provisória editada por FHaC a poucos dias do primeiro turno.
Num quadro como esse, ante a condescendência de Lula com um interesse privado (a exclusividade das entrevistas) e o beneplácito com que foi presenteado pela Globo (acresça-se um "Globo Repórter" na sexta), o público tem o direito de se perguntar, como fizeram ao ombudsman alguns leitores, inclusive eleitores do líder petista: por que ele fez isso? Eis uma bela pauta.



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