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OMBUDSMAN
A posse
BERNARDO AJZENBERG
A cobertura da posse de
Luiz Inácio Lula da Silva na
Presidência da República não foi
nenhum desastre, mas cabe comentar alguns aspectos jornalisticamente incômodos.
O primeiro é o clima de euforia
e emotividade que tomou conta
da maior parte da mídia.
Na TV, louvou-se tudo (gafes,
discursos, quebras de protocolo).
Exceção foi a Record -curiosamente ligada, via Igreja Universal, ao PL de José Alencar.
Os jornais não ficaram atrás.
"O Globo" deu a seguinte manchete: "Povo segue Lula e testemunha o seu compromisso por
mudanças". As do "Jornal do
Brasil" e do "Estado de S.Paulo"
foram palavras do presidente
("Nada impedirá que façamos
as reformas" e "Vamos mudar,
sim. Mudar com coragem e com
cuidado").
No noticiário, liam-se frases
como "...um povo que queria vê-lo e tocá-lo, uma gente humilde
cantando, pulando, dançando e
gritando seu nome"; "um sol
avermelhado... iluminou o presidente"; "indiferente à liturgia do
cargo, Lula correspondeu às manifestações de alegria, afeto e
companheirismo. Apertou dezenas de mãos, deu abraços, a
muitos dedicou uma palavrinha
de cumprimento".
Corretamente, a Folha não
adotou esse tipo catártico de cobertura. Manchete ("Lula assume Presidência e pede "controle
das ansiedades sociais'") e textos
noticiosos foram contidos, menos emocionais. A intensidade e
o calor da participação popular
se evidenciaram nas fotos.
Ao noticiar a histórica e reveladora sequência de eventos
marcados pela informalidade,
detalhes simbólicos e ligeiros incidentes, porém, o jornal também cometeu pequenas gafes.
Informações díspares saíram,
por exemplo, sobre quais ministros foram mais aplaudidos no
ato de nomeação. Nada se publicou sobre o constrangido aperto
de mãos entre Ciro Gomes e Fernando Henrique Cardoso.
A bursite de Lula, "atuante"
no dia, conforme os concorrentes, passou em branco. Idem para o significativo uso de uma Bic
de plástico por alguns ministros
na assinatura de nomeações.
Deixou a desejar, ainda, a repercussão do discurso do presidente no Congresso. Só políticos
foram ouvidos; nada de empresários, banqueiros etc.
Ao comparar o total de pessoas
presentes nas diversas posses
presidenciais, o jornal informou
que a de FHC em 1995 reuniu 10
mil num texto e 4.000 em outro.
Sobre isso, aliás, ficaremos sem
dado confiável. Os números publicados foram de 70 mil, 110 mil,
150 mil ou 200 mil, conforme cada jornal. Se depender da mídia,
os historiadores, no futuro, não
terão, nesse quesito, nenhuma
facilidade em suas pesquisas.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
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-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
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