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Sua Excelência, o leitor
A Folha às vezes parece se esquecer de quem a lê; seria bom reavivar a profissão de fé de Octavio Frias: o jornal é feito para "Sua Excelência, o leitor"
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QUEM acompanha os
diários impressos de
prestígio, os telejornais
de qualidade, os bons serviços
noticiosos on-line e as rádios
dedicadas ao jornalismo já se
habituou ao esforço para assegurar a manifestação dos que
são criticados e acusados. É o
chamado "outro lado".
As publicações transparentes identificam a empresa que
pagou as viagens de "enviados
especiais" que não foram bancadas por elas.
Nas Redações que abrigam a
ética, não se admite que um
profissional trabalhe parte do
dia para o jornal e parte para
instituição objeto de atenção
jornalística. É um conflito de
interesses inaceitável.
Se houve erro, corrige-se a
informação. As páginas de opinião, ao contrário dos encardidos palanques de pensamento
único, confrontam convicções
antagônicas.
Até poucas décadas atrás
não era assim. Numerosos valores e procedimentos que hoje são caros a uma parcela do
jornalismo brasileiro foram
introduzidos ou estimulados
pela Folha, a partir de meados
da década de 1970.
No domingo morreu o condutor e fiador dessas mudanças, o publisher Octavio Frias
de Oliveira. De olho no futuro,
o maior desafio do jornal é renovar um contrato simbólico
que certa vez lhe permitiu veicular o slogan "de rabo preso
com o leitor".
A Folha começou mal a era
sem "seu Frias", como era conhecido o publisher. Nos dias
seguintes à sua morte, personalidades dominaram o "Painel do Leitor", que não abriu
exceção aos "leitores comuns", causa e fortuna das
empreitadas jornalísticas de
sucesso.
Aos "vips", reservaram-se
colunas para as condolências.
As mensagens de "anônimos"
não foram contempladas, pelo
menos até a sexta-feira. "Sua
Excelência, o leitor" -expressão cunhada e cultivada por
Frias- foi excluída de um espaço que deve ser seu.
O foco no leitor foi uma
transformação essencial da
Folha há três décadas. Não cabia ao jornal decretar a verdade, mas servir como tribuna
plural para que os leitores formassem juízo.
O Projeto Folha, anunciado
em 1984, radicalizou a orientação. Ao inventariar erros de
informação, português e padronização, criou um saudável
controle de qualidade, similar
ao de empresas de ramos
alheios ao jornalismo.
Em 1989, a Folha foi pioneira no país com a criação do
cargo de ombudsman. Talvez
não haja diário nacional que
se corrija (menos que o necessário) e se critique tanto.
A plataforma que preconiza
um jornalismo crítico, pluralista e apartidário explica por
que o jornal investigou tanto o
governo Fernando Henrique
Cardoso (é seu o "furo" sobre
a compra de votos para a
emenda da reeleição) como o
governo Lula (a entrevista de
Roberto Jefferson sobre o
mensalão saiu na Folha).
Em seus maus momentos,
contudo, a Folha dá a impressão de que se esquece das necessidades reais de quem a lê.
Um antídoto para isso seria
reavivar a, mais que uma boa
tirada, profissão de fé de Octavio Frias: o jornal é feito para
"Sua Excelência, o leitor".
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Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Mário Magalhães/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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