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OMBUDSMAN
Imprensa sob pressão
MARCELO BERABA
A imprensa brasileira acaba de passar por dois testes
importantes, as coberturas das
eleições no Brasil e nos Estados
Unidos. Saiu-se bem? Eu diria
que saiu chamuscada, com arranhões e questionamentos.
Cada eleição é uma prova de
fogo para qualquer imprensa do
mundo que se pretenda séria e
responsável. As pressões legítimas de leitores e de candidatos, e
de seus partidários, transformam vários momentos da disputa num jogo bruto que exige
dos jornais muita serenidade para manter o distanciamento crítico e a cobertura isenta.
Em jornais que têm ombudsman, no Brasil infelizmente apenas três, somos os depositários
da ira ou da frustração de leitores, do inconformismo dos candidatos e das reações dos jornalistas. É normal.
Esse embate é ainda mais tenso em São Paulo, e a pressão
maior recai sempre sobre a Folha. Foi em São Paulo onde nasceram, e têm fortes raízes, os dois
principais partidos que disputam hoje a hegemonia nacional,
o PT e o PSDB. Ambos surgiram
identificados com a Folha da
campanha das Diretas-Já e cobram ambos do jornal, erroneamente, uma fidelidade incompatível com o apartidarismo.
Dito isso, devo informar que a
pressão maior, ao longo da campanha deste ano em São Paulo,
foi de leitores que consideravam
que a Folha teve um comportamento jornalístico pró-tucanos.
A maioria dos e-mails que recebi
nos últimos meses tinha essa
queixa. De 1º de julho para cá, de
472 mensagens arquivadas sobre
o caderno Brasil, 326 continham
críticas à cobertura eleitoral. Algumas emitidas claramente por
militantes petistas; outras, por
leitores que se diziam sem partido, mas igualmente insatisfeitos
com a cobertura.
Muitas vezes sem motivo. Mas
muitas com razão, como assinalei em várias colunas. Em diversas ocasiões faltaram ao jornal
equilíbrio nas edições, rigor e
precisão nas informações e regularidade na cobertura das políticas públicas estaduais que repercutem na eleição municipal.
Inútil voltar aos exemplos.
Finda a eleição municipal, o
interesse dos leitores da Folha se
volta agora para a cobertura do
novo governo. É de se esperar
que seja igualmente atenta e crítica. Muitos leitores, alguns por
birra ou ironia, outros por curiosidade, perguntaram ao longo
destes meses por que a Folha não
declarava apoio explícito a um
candidato, como fez o "Estado"
em favor de José Serra, e fizeram
quase todos os jornais dos Estados Unidos.
A melhor pessoa para responder à essa questão, e às críticas
que, durante a eleição, encaminhei em meu nome e em nome
dos leitores, é o diretor de Redação do jornal, Otavio Frias Filho:
"Há jornais que declaram seu
voto em editorial. Acho legítimo,
mas essa não é a tradição da Folha. Embora o jornal emita suas
opiniões todos os dias em editoriais, preferimos não nos atrelar
a esta ou àquela candidatura, a
fim de resguardar ainda mais a
autonomia do jornal em relação
a grupos e partidos.
Respeito a opinião de quem
pensa diferente, mas acredito
que a cobertura da Folha a respeito das eleições municipais foi
equilibrada e isenta. Jornalismo
não é ciência exata, de modo que
sempre há controvérsias e interpretações divergentes. Mas penso que a Folha se manteve fiel a
seu compromisso com um jornalismo apartidário e crítico. Pretendemos dedicar, à futura gestão José Serra na Prefeitura de
São Paulo, tratamento semelhante ao dispensado à gestão da
prefeita Marta Suplicy".
A função do ombudsman não é
a de defender este ou aquele interesse de grupo, mas a de zelar para que o jornal ofereça a seus leitores informação de qualidade,
coberturas equilibradas e pluralidade de temas, enfoques, análises e opiniões. É o que tento fazer.
O que me parece novo no relacionamento da sociedade com a
imprensa, e não está restrito à
cobertura eleitoral, é a pressão
organizada por meio de observatórios e institutos de monitoramento. Na minha opinião, a
pressão por equilíbrio, qualidade
e pluralidade tende a crescer, e os
jornais terão de estar preparados. Esses instrumentos de vigilância devem se multiplicar e
abranger todas as áreas do jornalismo. Se sérios, poderão ter
influência crescente nos meios de
comunicação.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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