São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008
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CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA - ombudsman@uol.com.br Os dilemas de uma cinqüentona
A ILUSTRADA faz 50 anos nesta quarta-feira. Perguntei a ex-editores do que ela precisa para ser um ator relevante no debate cultural do país. Abaixo, sínteses das respostas. ![]() PARA MAIORES DE 30 A Ilustrada envelheceu. Continua falando muito bem para os que foram jovens e nela tinham o seu canal de expressão. Conseguiu segurar uma audiência de pessoas com mais de 30 anos. Tem dificuldade em conquistar os mais jovens, menos propensos ao suporte do papel jornal e mais ligados nos meios interativos. (CAIO TÚLIO COSTA, 1981 a 1982) LEITOR PARTÍCIPE Precisa ser novidadeira, assertiva e atrevida, atender expectativas, mas saber surpreender e incomodar, dosar serviço com reportagem investigativa e ser campo fértil para idéias novas. Mas isso tudo não bastará. Vai precisar atuar além dos limites do caderno impresso e do próprio endereço pontocom. O novo leitor tem vocação para partícipe. (MARION STRECKER, 1987 a 1989) CRÍTICO AO MERCADO O problema é encontrar denominadores comuns numa confederação de guetos. A saída é ser cada vez mais crítico ao mercado, fugir das armadilhas do deslumbramento, da superficialidade e da ingenuidade, as pragas do jornalismo cultural. O xis da questão é que essa receita custa caro. (MÁRIO CESAR CARVALHO, 1989 a 1991) PRAZER DA RUPTURA Ampliar o repertório da reportagem; recriar-se como rede informativa; submeter as políticas culturais públicas e o marketing da indústria de entretenimento à investigação jornalística; aprimorar os serviços; recompor o valor intelectual e polêmico da crítica; retomar o entusiasmo pelo debate, o gosto da provocação e o prazer das rupturas e das descobertas. (ALCINO LEITE NETO, 1993 a 1994) LOCALIZAR O DEBATE A Ilustrada é filha de período em que o debate cultural era mais coletivo e concentrado em poucos lugares, por onde circulava aparentemente toda a gente envolvida. Isso mudou radicalmente, nos faz desconfiar que nem haja mais linguagem e terreno comum para haver debate. Talvez a tarefa principal seja atar as pontas dispersas. (BIA ABRAMO, 1994 a 1995) PINÇAR O ORIGINAL O número de manifestações culturais só tende a crescer exponencialmente. Cobertura "universal" seria virtualmente impossível. Mesmo assim, a tendência é abraçar essa "cauda longa". O diferencial será a capacidade de pinçar nessa "cauda longa" as manifestações mais originais, capazes de formar, elas mesmas, suas próprias "caudas". Para isso, apostar naquilo que é totalmente inusitado. (ZECA CAMARGO, 1995) MÚLTIPLAS OPINIÕES Se há uma coisa de que eu sinto falta é da multiplicidade de opiniões. No mais das vezes nem é dada a palavra ao artista, mas sim ao crítico, ao colunista, ao articulista, sem que haja tampouco o confronto das idéias. Que seja dada a palavra aos criadores. (LUIZ CAVERSAN, 1995) TRIPÉ DE BASE Análise, interpretação e crítica. A Ilustrada do futuro deveria se basear nesse tripé. A cereja no bolo seriam reportagens exclusivas. E uma medida a ser tomada ontem: jogar fora tabelas e roteiros. Comem papel, cada vez mais caro, e estão mais bem dados no Guia da Folha ou on-line. (SÉRGIO DÁVILA, 1996 a 2000) ETERNA JUVENTUDE Como a tendência do leitor de jornal é envelhecer sem se renovar nas mesmas proporções, creio que a vontade de eterna juventude (valorizar o novo pelo novo, sem pôr em xeque sua consistência) pode ter ficado anacrônica. Para satisfazer e manter fiel público mais maduro será necessário esforço mais amplo de aprofundar informação e opinião. (CÁSSIO STARLING CARLOS, 2004 a 2005) A FORÇA DA MARCA Não creio que o principal desafio da Ilustrada seja transformar-se num ator relevante do debate cultural, o que me parece um pleito nostálgico. O desafio é fazer jornalismo qualificado para leitores do século 21, cuja atenção é atraída para uma infinidade de outros veículos. A Ilustrada deveria aproveitar sua marca forte, com credibilidade, para produzir conteúdo diferenciado para plataformas diversas. (MARCOS AUGUSTO GONÇALVES, 1986 a 1987 e atual editor desde 2006) Próximo Texto: Para corrigir uma injustiça Índice Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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