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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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Amostra perigosa

É comum um rosto conhecido ocupar simultaneamente capas de diferentes revistas femininas ou de "celebridades".
Muito raramente, porém, isso acontece com revistas semanais de informação -a não ser em casos "quentes" que envolvam autoridades. Pois aconteceu, na semana passada, com a "Época" e a "Veja São Paulo".
Como mostra o quadro ao lado, ambas reservaram a capa para reportagem sobre segurança pessoal e a ilustraram com a cantora Wanessa Camargo. Mera coincidência? Nem tanto.
Além de "celebridade", Wanessa é de uma família que já sofreu com a violência (o caso de um tio, irmão de seu pai, Zezé di Camargo) e vive, ela própria, numa espécie de gaiola móvel.
Sua escolha tem lógica, mas não explica a coincidência.
Ao tentar entender como as duas revistas saíram tão parecidas, apurei que a iniciativa da pauta (o tema segurança) não teria sido da assessoria da cantora, mas sim das próprias revistas ("Veja-SP" em primeiro lugar).
A assessoria aceitou o pedido da primeira e depois topou o da segunda, embora calculando que as duas reportagens seriam publicadas em datas diferentes.
É fácil supor, no entanto, que uma das publicações, sabendo da pauta da outra, não admitiria sair com a sua, quase igual, uma semana depois.
Quaisquer que sejam os detalhes desses "bastidores", porém, o problema de fundo é que o jornalismo, aqui, foi vitimado.
A opção simultânea das duas publicações por Wanessa corresponde a um fenômeno muito mais amplo: a pressão crescente e competente da indústria do entretenimento sobre a pauta da imprensa (com a aquiescência desta), para torná-la veículo de promoção sem pagar por isso.
Trata-se de uma "celebridade" -e, comercialmente, um novo produto- em ascensão.
A rara coincidência dessas capas reflete o avanço de um namoro (jornalismo e entretenimento) do qual nem sempre a notícia é o combustível principal.



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