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A nova empresa
Estava de férias quando a Folha anunciou, no dia 4 de janeiro, a reorganização empresarial
do grupo Folha. Não tive oportunidade de comentar o fato e o
faço agora.
Apenas para relembrar: a notícia, publicada no caderno Dinheiro, informava que a Folha e
o UOL se uniam "para abrir o
capital". Trechos do texto: "A
Folha e o UOL (Universo Online) passaram a integrar uma
mesma companhia, a "holding"
Folha-UOL S.A. Com a fusão
das duas empresas, o grupo se
torna na prática o segundo conglomerado de mídia do Brasil,
com faturamento estimado em
R$ 1,3 bilhão. Controladora tanto do UOL como da Empresa Folha da Manhã, que publica a
Folha, a família Frias manterá o
controle da Folha-UOL. Sua
participação no capital da nova
empresa é de 79%. Os restantes
21% são detidos pela Portugal
Telecom, empresa portuguesa
que atua na exploração de telefonia celular no Brasil -em associação com a Telefónica da Espanha controla a Vivo. (...) O
presidente da Folha-UOL, Luís
Frias, afirmou que a consolidação visa à abertura de capital
em futuro próximo. "Estamos
trabalhando para apresentar a
melhor oportunidade para o
mercado: segunda empresa do
setor em tamanho, líder no que
faz, dívida zerada até o final de
2005 e companhia profissionalizada.'"
O texto lembrava ainda que,
"fundada em 1921, a Folha é o
jornal de maior circulação no
Brasil e um dos periódicos mais
influentes do país".
Resumo algumas informações
que obtive e que não constam do
comunicado oficial da Folha.
Não entrou dinheiro novo na
operação. A reestruturação do
grupo teve como principal objetivo juntar os caixas das duas
grandes empresas do grupo, Folha e UOL, e permitir que o portal socorra o jornal endividado.
O caixa do UOL mais o resultado da Folha em 2004 liquidam a
dívida do jornal com os bancos,
restando apenas as com fornecedores de papel. No novo acordo
firmado entre o grupo e a Portugal Telecom há uma cláusula
que estabelece que a tele não tem
ingerência na linha editorial do
jornal.
Destaco dois aspectos nesta nova formação empresarial.
Primeiro, a reação da Folha.
Como já escrevi em outras ocasiões, a empresa vive um momento difícil por conta da dívida
que acumulou nos últimos anos.
Esta situação levou a cortes no
jornal que resultaram na perda
de profissionais, na escassez de
recursos e na falta de investimentos. Na minha opinião, essa
soma de problemas afetou a
qualidade do jornal. A nítida
vantagem que tinha em outras
épocas em relação ao "Estado de
S.Paulo" e ao "Globo", do Rio,
seus dois diretos concorrentes
nacionais, já não existe. Os três
jornais se equivalem hoje nos erros e acertos.
Sob o ponto de vista do leitor e
dos profissionais do jornal, interessa que a empresa recupere o
mais rapidamente possível a
saúde financeira e a capacidade
de investir e volte a perseguir a
produção de um jornal diferenciado. Sua credibilidade e seu
prestígio estão associados ao período em que investiu em qualidade e criatividade.
O segundo aspecto é a chegada
ao jornal de um sócio estrangeiro, do setor de telecomunicações,
a Portugal Telecom. A presença
de teles na indústria jornalística
ainda é um fato novo no Brasil,
mas já é uma realidade em vários países do mundo e aponta
para um problema sério que é o
da formação de grandes conglomerados produtores de conteúdo
(os jornais do grupo Folha), com
portal na Internet (UOL) e a rede de telecomunicações.
A entrada de empresas não
jornalísticas na área de comunicação e a chegada de sócios estrangeiros devem desenhar um
novo cenário num mercado onde a propriedade dos meios já é
caracterizada pela concentração. É muito cedo para se dizer o
que vai acontecer com as empresas de comunicação no Brasil
nos próximos anos, mas é certo
que as empresas jornalísticas
moldadas nas últimas três décadas do século passado vão ficando para trás.
A Folha cobre bem o processo
de abertura e de privatização do
setor de telecomunicações desde
o início dos anos 90 e é uma referência crítica nesta área. O que
se deve observar a partir de agora é se a associação com uma tele
vai afetar a regularidade e a
qualidade de sua cobertura.
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