São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2005

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A nova empresa

Estava de férias quando a Folha anunciou, no dia 4 de janeiro, a reorganização empresarial do grupo Folha. Não tive oportunidade de comentar o fato e o faço agora.
Apenas para relembrar: a notícia, publicada no caderno Dinheiro, informava que a Folha e o UOL se uniam "para abrir o capital". Trechos do texto: "A Folha e o UOL (Universo Online) passaram a integrar uma mesma companhia, a "holding" Folha-UOL S.A. Com a fusão das duas empresas, o grupo se torna na prática o segundo conglomerado de mídia do Brasil, com faturamento estimado em R$ 1,3 bilhão. Controladora tanto do UOL como da Empresa Folha da Manhã, que publica a Folha, a família Frias manterá o controle da Folha-UOL. Sua participação no capital da nova empresa é de 79%. Os restantes 21% são detidos pela Portugal Telecom, empresa portuguesa que atua na exploração de telefonia celular no Brasil -em associação com a Telefónica da Espanha controla a Vivo. (...) O presidente da Folha-UOL, Luís Frias, afirmou que a consolidação visa à abertura de capital em futuro próximo. "Estamos trabalhando para apresentar a melhor oportunidade para o mercado: segunda empresa do setor em tamanho, líder no que faz, dívida zerada até o final de 2005 e companhia profissionalizada.'"
O texto lembrava ainda que, "fundada em 1921, a Folha é o jornal de maior circulação no Brasil e um dos periódicos mais influentes do país".
Resumo algumas informações que obtive e que não constam do comunicado oficial da Folha. Não entrou dinheiro novo na operação. A reestruturação do grupo teve como principal objetivo juntar os caixas das duas grandes empresas do grupo, Folha e UOL, e permitir que o portal socorra o jornal endividado. O caixa do UOL mais o resultado da Folha em 2004 liquidam a dívida do jornal com os bancos, restando apenas as com fornecedores de papel. No novo acordo firmado entre o grupo e a Portugal Telecom há uma cláusula que estabelece que a tele não tem ingerência na linha editorial do jornal.
Destaco dois aspectos nesta nova formação empresarial.
Primeiro, a reação da Folha. Como já escrevi em outras ocasiões, a empresa vive um momento difícil por conta da dívida que acumulou nos últimos anos. Esta situação levou a cortes no jornal que resultaram na perda de profissionais, na escassez de recursos e na falta de investimentos. Na minha opinião, essa soma de problemas afetou a qualidade do jornal. A nítida vantagem que tinha em outras épocas em relação ao "Estado de S.Paulo" e ao "Globo", do Rio, seus dois diretos concorrentes nacionais, já não existe. Os três jornais se equivalem hoje nos erros e acertos.
Sob o ponto de vista do leitor e dos profissionais do jornal, interessa que a empresa recupere o mais rapidamente possível a saúde financeira e a capacidade de investir e volte a perseguir a produção de um jornal diferenciado. Sua credibilidade e seu prestígio estão associados ao período em que investiu em qualidade e criatividade.
O segundo aspecto é a chegada ao jornal de um sócio estrangeiro, do setor de telecomunicações, a Portugal Telecom. A presença de teles na indústria jornalística ainda é um fato novo no Brasil, mas já é uma realidade em vários países do mundo e aponta para um problema sério que é o da formação de grandes conglomerados produtores de conteúdo (os jornais do grupo Folha), com portal na Internet (UOL) e a rede de telecomunicações.
A entrada de empresas não jornalísticas na área de comunicação e a chegada de sócios estrangeiros devem desenhar um novo cenário num mercado onde a propriedade dos meios já é caracterizada pela concentração. É muito cedo para se dizer o que vai acontecer com as empresas de comunicação no Brasil nos próximos anos, mas é certo que as empresas jornalísticas moldadas nas últimas três décadas do século passado vão ficando para trás.
A Folha cobre bem o processo de abertura e de privatização do setor de telecomunicações desde o início dos anos 90 e é uma referência crítica nesta área. O que se deve observar a partir de agora é se a associação com uma tele vai afetar a regularidade e a qualidade de sua cobertura.


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