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Um desserviço
Se tudo no jornalismo está em xeque e é passível de contestação, a prestação de serviços não permite erros, porque estes são irreversíveis
O ADVOGADO João Vicente Lavieri escreve
para contar o drama
que viveu por confiar numa
informação do "Guia da Folha", o "roteiro mais completo de São Paulo" encartado
às sextas na edição que circula na Grande São Paulo.
Lavieri se locomove em
cadeira de roda. Decidiu jantar fora e consultou o "Guia"
para escolher um restaurante preparado para receber
pessoas como ele, com dificuldades de locomoção. Um
dos gráficos usados pelo jornal é o Símbolo Internacional de Acesso, que informa
que um estabelecimento
possui equipamentos como
rampas, banheiros adaptados e outros recursos exigidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas.
No "Guia", o restaurante
escolhido trazia o símbolo,
mas não estava preparado,
como Lavieri constatou na
"aventura" que resumo.
"Primeiro, para colocarem
uma rampa móvel na escada
da entrada foi necessário
manobrar vários carros para
abrir espaço, gerando espera
e grande alvoroço. A rampa
ficou muito íngreme, exigindo que o manobrista tomasse distância para dar impulso
e empurrasse a cadeira com
força, o que me deu a sensação desconfortável de montanha russa sem cinto de segurança. Havia um outro degrau, sem rampa, que exigiu
que os profissionais habilitados a carregar bandejas me
carregassem. O restaurante
todo parou para assistir a cena e eu me senti no centro do
picadeiro de um circo, sob o
olhar atento da platéia, sem
desejar estar ali. Entre as
mesas não há espaço para a
passagem da cadeira de rodas e o garçom que me empurrava precisava pedir aos
demais clientes que se apertassem contra as mesas para
abrir caminho. Atrás, aos sobressaltos, ia a minha mulher, preocupada com o meu
bem estar, dos demais clientes e com a exposição exacerbada a que estávamos sendo
submetidos. Depois disso tudo, banheiro adaptado, então, nem pensar."
O caso narrado por Lavieri
é apenas um exemplo e por
isso não identifico o restaurante. O ponto é que os dois
lados -a Folha e o restaurante- têm responsabilidade num caso como esse que
induziu o leitor a uma situação de desconforto e de
constrangimento público. A
maior parte dos restaurantes indicados semanalmente
pela Folha se diz apta a receber deficientes, o que nem
sempre é verdade. O mesmo
vale para cinemas, teatros,
casas de shows e galerias.
A Folha, por sua vez, deveria ser rigorosa na divulgação de informações de serviço. Se tudo no jornalismo está em xeque e é passível de
contestação, a prestação de
serviços não permite erros.
O horário errado de uma
sessão de cinema ou a indicação incorreta de um restaurante são desacertos irreversíveis para quem confiou
no jornal.
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