São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2006

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Um desserviço

Se tudo no jornalismo está em xeque e é passível de contestação, a prestação de serviços não permite erros, porque estes são irreversíveis

O ADVOGADO João Vicente Lavieri escreve para contar o drama que viveu por confiar numa informação do "Guia da Folha", o "roteiro mais completo de São Paulo" encartado às sextas na edição que circula na Grande São Paulo.
Lavieri se locomove em cadeira de roda. Decidiu jantar fora e consultou o "Guia" para escolher um restaurante preparado para receber pessoas como ele, com dificuldades de locomoção. Um dos gráficos usados pelo jornal é o Símbolo Internacional de Acesso, que informa que um estabelecimento possui equipamentos como rampas, banheiros adaptados e outros recursos exigidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas.
No "Guia", o restaurante escolhido trazia o símbolo, mas não estava preparado, como Lavieri constatou na "aventura" que resumo.
"Primeiro, para colocarem uma rampa móvel na escada da entrada foi necessário manobrar vários carros para abrir espaço, gerando espera e grande alvoroço. A rampa ficou muito íngreme, exigindo que o manobrista tomasse distância para dar impulso e empurrasse a cadeira com força, o que me deu a sensação desconfortável de montanha russa sem cinto de segurança. Havia um outro degrau, sem rampa, que exigiu que os profissionais habilitados a carregar bandejas me carregassem. O restaurante todo parou para assistir a cena e eu me senti no centro do picadeiro de um circo, sob o olhar atento da platéia, sem desejar estar ali. Entre as mesas não há espaço para a passagem da cadeira de rodas e o garçom que me empurrava precisava pedir aos demais clientes que se apertassem contra as mesas para abrir caminho. Atrás, aos sobressaltos, ia a minha mulher, preocupada com o meu bem estar, dos demais clientes e com a exposição exacerbada a que estávamos sendo submetidos. Depois disso tudo, banheiro adaptado, então, nem pensar."
O caso narrado por Lavieri é apenas um exemplo e por isso não identifico o restaurante. O ponto é que os dois lados -a Folha e o restaurante- têm responsabilidade num caso como esse que induziu o leitor a uma situação de desconforto e de constrangimento público. A maior parte dos restaurantes indicados semanalmente pela Folha se diz apta a receber deficientes, o que nem sempre é verdade. O mesmo vale para cinemas, teatros, casas de shows e galerias.
A Folha, por sua vez, deveria ser rigorosa na divulgação de informações de serviço. Se tudo no jornalismo está em xeque e é passível de contestação, a prestação de serviços não permite erros. O horário errado de uma sessão de cinema ou a indicação incorreta de um restaurante são desacertos irreversíveis para quem confiou no jornal.


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