São Paulo, domingo, 17 de julho de 2005

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A favor dos animais

O campeão de mensagens dos leitores nesta semana não foi o "mensalão" nem a Daslu. O editorial "Direitos de Animais", publicado na segunda-feira, provocou a ira de 20 leitores que criticaram duramente a defesa que o jornal fez do uso de animais em pesquisas científicas em algumas circunstâncias.
O editorial foi produzido depois da publicação, no dia 6, em Ciência, da reportagem "Usar animais em estudo é barbárie, diz historiador", em que dois acadêmicos discutem o assunto. Nicolau Sevcenko é o historiador do título e informa que existem hoje alternativas ao uso de animais: "A ciência propicia hoje softwares complexos que modelizam o organismo. É possível também usar material de animais mortos de maneira natural, mas congelados para efeito de estudo".
A bióloga Dolores Rivero tem outra opinião: "Para o avanço da área médica é imprescindível as pesquisas com animais. O ganho de conhecimento foi brutal. Não se pode expor uma pessoa a um poluente como o monóxido de carbono. Elas desmaiam e podem morrer".
Todos os leitores que escreveram contra o editorial do jornal estavam de acordo com o ponto de vista de Sevcenko. Muitas mensagens eram parecidas, o que pode indicar uma campanha. Mas isso pouco importa. O fato é que o assunto é polêmico e está longe de ter sido esgotado.
O que mais incomodou os leitores que escreveram foi o tom seco e sem meias palavras do editorial. O texto já começa provocador, como deve ser um texto opinativo. "A natureza é cruel. Essa é uma lei universal que pode ser depreendida da simples observação das relações ecológicas entre espécies e indivíduos. Reconhecer esse fato deveria ser um pré-requisito para os defensores de direitos dos animais. Infelizmente, não é, e freqüentemente surgem reivindicações românticas pelo fim da utilização de animais em pesquisas e no ensino".
Alguns leitores reagiram emocionalmente e desqualificaram o editorial e o jornal. Outros, no entanto, questionaram a posição da Folha com argumentos e informações que contrariam a idéia de que é impossível avançar nas pesquisas sem o sacrifício de animais. Encaminhei todas as mensagens para a editoria de Opinião e pedi um comentário do editor Marcos Augusto Gonçalves, que reproduzo:
"A Folha nada tem contra os animais. O editorial apenas procurou introduzir uma dose de realismo no debate sobre a utilização de animais na ciência e no ensino médico. Em relação à primeira, existem circunstâncias em que é impossível deixar de utilizar cobaias. A toxicidade de uma nova droga, por exemplo, precisa ser testada em animais antes de ser ministrada a humanos. No que diz respeito ao ensino médico, o próprio editorial afirmou ser desejável substituir os animais por simuladores, mas essa tecnologia ainda precisa ser melhorada e barateada para que possa chegar às escolas médicas brasileiras."
O jornal deveria levar em conta as informações dos que acham que já é possível hoje prescindir do uso de animais nas pesquisas e no ensino e produzir uma reportagem que mergulhe no assunto e ajude a entendê-lo. É um grande tema mal explorado.

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