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A favor dos animais
O campeão de mensagens dos
leitores nesta semana não foi o
"mensalão" nem a Daslu. O editorial "Direitos de Animais", publicado na segunda-feira, provocou a ira de 20 leitores que criticaram duramente a defesa que o
jornal fez do uso de animais em
pesquisas científicas em algumas
circunstâncias.
O editorial foi produzido depois da publicação, no dia 6, em
Ciência, da reportagem "Usar
animais em estudo é barbárie, diz
historiador", em que dois acadêmicos discutem o assunto. Nicolau Sevcenko é o historiador do título e informa que existem hoje
alternativas ao uso de animais: "A
ciência propicia hoje softwares
complexos que modelizam o organismo. É possível também usar
material de animais mortos de
maneira natural, mas congelados
para efeito de estudo".
A bióloga Dolores Rivero tem
outra opinião: "Para o avanço da
área médica é imprescindível as
pesquisas com animais. O ganho
de conhecimento foi brutal. Não
se pode expor uma pessoa a um
poluente como o monóxido de
carbono. Elas desmaiam e podem
morrer".
Todos os leitores que escreveram contra o editorial do jornal
estavam de acordo com o ponto
de vista de Sevcenko. Muitas
mensagens eram parecidas, o que
pode indicar uma campanha.
Mas isso pouco importa. O fato é
que o assunto é polêmico e está
longe de ter sido esgotado.
O que mais incomodou os leitores que escreveram foi o tom seco
e sem meias palavras do editorial.
O texto já começa provocador,
como deve ser um texto opinativo. "A natureza é cruel. Essa é
uma lei universal que pode ser depreendida da simples observação
das relações ecológicas entre espécies e indivíduos. Reconhecer
esse fato deveria ser um pré-requisito para os defensores de direitos dos animais. Infelizmente,
não é, e freqüentemente surgem
reivindicações românticas pelo
fim da utilização de animais em
pesquisas e no ensino".
Alguns leitores reagiram emocionalmente e desqualificaram o
editorial e o jornal. Outros, no entanto, questionaram a posição da
Folha com argumentos e informações que contrariam a idéia de
que é impossível avançar nas pesquisas sem o sacrifício de animais. Encaminhei todas as mensagens para a editoria de Opinião
e pedi um comentário do editor
Marcos Augusto Gonçalves, que
reproduzo:
"A Folha nada tem contra os
animais. O editorial apenas procurou introduzir uma dose de
realismo no debate sobre a utilização de animais na ciência e no
ensino médico. Em relação à primeira, existem circunstâncias em
que é impossível deixar de utilizar
cobaias. A toxicidade de uma nova droga, por exemplo, precisa
ser testada em animais antes de
ser ministrada a humanos. No
que diz respeito ao ensino médico, o próprio editorial afirmou ser
desejável substituir os animais
por simuladores, mas essa tecnologia ainda precisa ser melhorada
e barateada para que possa chegar às escolas médicas brasileiras."
O jornal deveria levar em conta
as informações dos que acham
que já é possível hoje prescindir
do uso de animais nas pesquisas e
no ensino e produzir uma reportagem que mergulhe no assunto e
ajude a entendê-lo. É um grande
tema mal explorado.
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