São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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DEPOIMENTOS

Rio e Bagdá

Sérgio Costa, diretor de Redação do "Dia", do Rio:
"Não acho possível fazer bom jornalismo no Rio virando as costas para as comunidades pobres onde não há presença do Estado e o domínio do crime é evidente. Depois do episódio do helicóptero, nossas equipes nas ruas passaram a ser alvos de piadinhas e indiretas de policiais do tipo: "Será que vale a pena morrer por uma reportagem?". É uma forma de intimidação. Telefonemas de ameaças para a redação também passaram a ser constantes.
O que fizemos? Além de providenciar todo o apoio para a dupla de jornalistas, entramos em contato com o chefe de polícia, Álvaro Lins. A responsabilidade sobre qualquer incidente ficou bem definida para a Secretaria Estadual da Segurança do Rio de Janeiro.
Diante dos últimos fatos combinamos uma série de procedimentos de segurança, que já estavam em prática desde a morte de Tim Lopes e que devemos adotar com mais rigor. Ninguém está proibido de entrar em favela, mas a necessidade de entrar numa área de conflito tem sido avaliada caso a caso e deve prevalecer o bom senso, sempre. E a decisão soberana do jornalista na rua deve ser respaldada pela direção da Redação".
 
Sérgio Dávila é correspondente da Folha na Califórnia e cobriu toda a guerra do Iraque, até a queda de Bagdá:
"Para a segurança do jornalista, a diferença básica entre a cobertura de uma guerra e uma situação de violência como a que vive o Rio hoje é que numa guerra os ataques são constantes e efetivos. Assim, é lógico que o jornalista corre mais risco numa guerra. Para ser numérico: nos 20 principais dias do conflito no Iraque, entre 20 de março de 2003 (o começo) e 9 de abril de 2003 (queda de Bagdá), dos 150 mil soldados da coalizão envolvidos no combate, menos de 500 morreram (ou 0,3%); dos cerca de mil jornalistas que participaram da cobertura naqueles dias, 16 morreram (ou quase 2%). Proporcionalmente, sete vezes mais.
Acho que a situação do Rio pode ser comparada, sim, embora em menor escala, com a que vivem os jornalistas em Bagdá hoje em dia. Os repórteres viraram declaradamente alvo, tanto de seqüestro quanto de tentativa de assassinato, o que dificulta enormemente o trabalho. Há um e-mail famoso rondado a internet agora, da correspondente do "Wall Street Journal" em Bagdá, em que diz que ela e seus colegas ficam o dia inteiro sentados no lobby do hotel, esperando as autoridades chegarem para dar a entrevista coletiva do dia. Sair às ruas procurando informações exclusivas e independentes tornou-se impossível".


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