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Faça o que digo, não o que faço
A Folha acha a vida pessoal
dos candidatos desimportante
para decisões eleitorais. É
inexplicável por que deu tanto
espaço e destaque a temas relacionados à condição conjugal
do prefeito de São Paulo.
Todos os temas de políticas
públicas, cerne da discussão
para os eleitores decidirem seu
voto, desapareceram do jornal
de segunda a sexta.
O estado civil de Gilberto
Kassab (DEM) gerou quatro
chamadas de capa, 11 abres de
página, 24 matérias, oito colunas, seis notas, 19 cartas de leitores, 1.172 centímetros de textos noticiosos (cerca de quatro
páginas cheias).
Até o correspondente em
Pequim foi mobilizado para escrever sobre o assunto, embora
ele venha sendo muito pouco
utilizado na cobertura da crise
econômica, em que o papel da
China é vital.
Este exagero despropositado
é grave erro editorial. Se o jornal acha que a vida íntima do
prefeito não é relevante, por
que lhe dá tanto relevo?
Além de incentivar a degradação do ambiente político, a
decisão incoerente de tornar
tal caso o prioritário da campanha do segundo turno provocou desequilíbrio total no tratamento até então relativamente justo que o jornal vinha
dando aos dois candidatos.
Marta Suplicy recebeu nestes cinco dias uma carga de
matérias negativas absolutamente desproporcional em relação a seu adversário.
Por exemplo, ela foi alvo de
oito textos opinativos críticos;
Kassab, de nenhum. Das 19
cartas publicadas, 15 foram
contra Marta. Registre-se que
o "Painel do Leitor" recebeu
224 cartas contra ela e 55 a favor. Mas para o ombudsman, a
relação foi inversa: 36 pró e 8
contra a ex-prefeita.
Ao estimular o bate-boca indigente e ajudar para que o insinuado na propaganda do PT
ficasse explícito, o jornal abriu
mão de fomentar o debate sadio. Ele nunca deveria se prestar ao trabalho sujo que outros
veículos fazem com muito prazer e competência.
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Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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