São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2004

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OS EDITORES

"Eventualmente é necessário ceder"

A propósito dos acordos dos jornais com as editoras para a publicação simultânea de reportagens sobre lançamentos, busquei as opiniões de dois editores de cadernos culturais. A seguir, seus comentários:
 

Guilherme Werneck, editor-adjunto da Ilustrada, da Folha:
Em relação ao embargo de editoras para determinados lançamentos, como foi o caso do livro de Umberto Eco, é preciso considerar alguns pontos.
Em primeiro lugar, os embargos não são a regra da cobertura na área de livros. E nós só cedemos a esse pedido das editoras caso identifiquemos que o lançamento embargado é um fato jornalístico relevante.
Os embargos são acordos para que determinada reportagem não seja publicada antes de uma data preestabelecida. É natural que, no caso de lançamentos importantes, todos os veículos procurem publicar na data combinada, para evitar o furo [a informação exclusiva].
Como há um diálogo constante com as principais editoras para conseguir materiais exclusivos, eventualmente é necessário ceder aos embargos. É óbvio que, quando há essa prática, a editora é quem leva vantagem, pois tem seu produto visível nos principais meios de comunicação do país.
Por outro lado, o jornal, sem a pressão do furo, tem a vantagem de conseguir produzir a sua reportagem com tempo, o que, na maior parte dos casos, resulta em um material de mais qualidade para o leitor.
 

Dib Carneiro Neto, editor do "Caderno 2" do "Estado de S.Paulo":
Embargos de editoras deveriam ser um expediente desnecessário, porque reforçam a mentalidade equivocada de que um caderno cultural é tanto melhor quanto mais numerosas forem as vezes em que conseguir publicar, antes dos outros, as entrevistas que os escritores certamente farão questão de conceder a todos, porque é do interesse deles vender livros.
Nos cadernos culturais, o emprego do termo "furo" é, na maioria dos casos, uma grande bobagem, um equívoco. Não existe furo jornalístico nenhum nessa obsessão por conseguir primeiro as provas de um livro. O leitor habitual dessa área tem um perfil no qual o que importa não é só "o que" se publica, mas "como" se publica. É importante fazer bem feito.
Algumas editoras às vezes jogam desonestamente, porque sabem que podem privilegiar determinado jornal obcecado pela exclusividade, em detrimento de outro mais ligado ao compromisso com leitores. Podem agir assim porque sabem que esse último tipo de jornal não vai deixar de publicar a mesma coisa em outro dia. Afinal, não é um jornal burro que privaria seus leitores de um belo assunto pelo motivo pífio de que saiu antes no concorrente. Só jornalistas vêem (lêem?) mais de um jornal, só jornalistas chamam de furo uma resenha antecipada que poderia estar na edição de outro dia.


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