São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Traficantes" de foto são atores de filme

Na edição de terça-feira, o "Jornal do Brasil" publicou na primeira página uma chamada com o título "Tráfico exibe poder de fogo pelo Orkut".
Acima, estampou uma foto de jovens armados, com a legenda "Doze traficantes com armas e coletes à prova de balas. Entre eles, uma mulher".
A reportagem da página A12 acrescentava mais informações obtidas na rede de relacionamentos da internet: "Um outro perfil, de uma pessoa não identificada, exibe a foto que simboliza a ousadia dos traficantes no Orkut. Doze jovens armados de fuzis, metralhadoras e pistolas se exibem para a câmara no alto de um morro. Até uma mulher aparece no grupo".
Foi "barriga", o que o "Manual da Redação" da Folha define como "publicação de grave erro de informação".
Os "traficantes" eram, na verdade, atores fotografados na filmagem de um longa ainda inédito.
Infelicidades como essa compõem a história de toda empreitada jornalística e de todo jornalista. Quem nunca deu vexame que ouse atirar a primeira pedra.
A maior surpresa, contudo, o "JB" guardou para o dia seguinte, quando titulou na capa "Atores viram bandidos em página de apologia ao CV": em momento algum o jornal reconheceu o seu erro.
Ao noticiar a investigação policial sobre apologia virtual ao crime, o diário contou que os "bandidos" eram artistas, mas transferiu a cobrança: "nem a assessoria do grupo [teatral Nós do Morro] nem os atores souberam dizer quem fez a fotografia e como ela foi parar lá" (no Orkut).
O maior tropeço do "JB" não foi a falta de checagem sobre foto garimpada na internet, mas não assumir que informou errado.
Conversei com a editora chefe adjunta do "JB", Ana Carvalho. Ela afirmou: "Não escolhemos aleatoriamente essa fotografia. Fomos induzidos ao erro porque a foto constava em quatro sites, todos com apologia ao Comando Vermelho. Não é nem tanto reconhecer, nem tanto não reconhecer o erro. Acho que existe uma má vontade grande com o "Jornal do Brasil", principalmente dos jornalistas".


Texto Anterior: A legião dos sem-revista
Próximo Texto: Ombudsmans se reúnem em Harvard
Índice


Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Mário Magalhães/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.