São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

Texto Anterior | Índice

Um retrato da corrupção

Os jornais vivem um eterno dilema: quando persistem na cobertura de casos de corrupção, os leitores reclamam do excesso de notícias negativas; quando diminuem as denúncias, os mesmos leitores os acusam de acobertar os escândalos.
É normal e, desde que me entendo por jornalista, tem sido assim. O ponto é este: os jornais dão a atenção devida ao assunto, cumprem a contento uma de suas funções sociais, que é o de vigiar o destino dos recursos públicos? Mais ou menos.
A Transparência Brasil publicou na semana passada um estudo, "Noticiário sobre Corrupção em Jornais Diários: um Retrato das Desigualdades Brasileiras", que mostra como essa cobertura varia de Estado para Estado e é irregular. A íntegra do estudo pode ser encontrada em www.deunojornal.org.br.
Durante o período analisado, de 14 de julho a 13 de agosto, foram contadas 2.865 reportagens sobre corrupção em 56 jornais diários de todos os Estados. Essas reportagens trataram de 213 casos e assuntos correlatos.
Um terço das reportagens (1.048) foi publicado nos jornais de São Paulo, do Rio e de Brasília. Na outra ponta, jornais de Mato Grosso do Sul, Rondônia, Amazonas, Roraima e Sergipe publicaram juntos 139 reportagens, ou 5%.
Os números mostram uma vigilância rarefeita nos Estados do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste. Em Mato Grosso do Sul foram editadas, nos jornais locais, ao longo de um mês, 21 reportagens que de alguma maneira sugeriam suspeita de corrupção. E assim mesmo, em textos curtos.
Outro problema que a pesquisa mostrou é a falta de continuidade das coberturas. Os jornais começam os casos, fazem grandes estardalhaços, e os esquecem. Segundo o estudo, apenas 35% dos 213 casos cobertos no período ficaram mais de dois dias nas páginas dos diários.
Na Folha, volta e meia isso acontece. Agora mesmo, o caso Kroll, reportagem exclusiva do jornal que mostrou que a espionagem entre empresas privadas atingira figuras públicas e que foi manchete dias seguidos, desapareceu do noticiário.


Texto Anterior: O caso Ibsen Pinheiro
Índice


Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman, ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.