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A pesquisa ignorada
As pesquisas de opinião exigem tratamento jornalístico cuidadoso. A leitura desatenta ou
negligente pode ocasionar erros
graves.
O Ibope divulgou na quarta-feira nova rodada da pesquisa
que faz trimestralmente para a
CNI (Confederação Nacional da
Indústria). A comparação das
edições de quinta-feira de alguns
jornais mostra vários equívocos.
A desaprovação do governo
Lula era de 38% em junho e chegou agora a 49%. A linha de
aprovação também se altera: era
de 55% e agora está em 45%. Como a margem de erro é de 2,2
pontos percentuais, a perda de
prestígio do presidente e de seu
governo é inquestionável.
Ocorre que o mesmo Ibope fez
pesquisa semelhante nos dias 18
e 22 de agosto para outro cliente.
A comparação do resultado de
setembro com o de agosto indica
uma realidade um pouco diferente daquela apontada pela
comparação com junho: a credibilidade do governo Lula, que vinha em queda desde junho, já tinha caído para 45% em agosto.
Em setembro, portanto, não
houve alteração.
Nem todos os meios de comunicação tiveram o cuidado de fazer esta ponderação. E ela é importante, não porque seja a favor
ou contra o governo, mas porque é a realidade captada pelas
pesquisas.
O comportamento da Folha foi
incoerente. Internamente, ela
destacou a pesquisa trimestral,
uma opção correta sob o ponto
de vista jornalístico, e informou
que "o aumento nos índices de
desaprovação ao governo e de
desconfiança no presidente (...)
precisa ser analisado com cautela" por causa da pesquisa de
agosto. O jornal publicou, inclusive, uma advertência do diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino: "A comparação [com agosto] mostra que não há uma queda, como a maioria dos veículos
[sites e TVs] divulgou durante o
dia de ontem [quarta-feira], mas
uma estabilidade na avaliação do
governo".
Mas na capa o jornal ignorou
suas próprias ponderações e divulgou apenas o resultado ultrapassado da comparação entre os
dados de setembro e junho, desconsiderando agosto e a estabilidade apontada pelas pesquisas
do Ibope e do próprio Datafolha.
Mesmo jornais habitualmente
cuidadosos, como o "Valor",
preteriram a pesquisa de agosto
e basearam seus noticiários exclusivamente na pesquisa trimestral. Algumas manchetes
ilustram o resultado desta omissão: "Confiança em Lula despenca" ("Extra"), "Ladeira abaixo
em todas as classes" ("JB") e
"Despenca confiança em Lula"
("Correio Braziliense").
Dos jornais que consultei, apenas o "Zero Hora", de Porto Alegre, publicou o infográfico com a
série histórica da avaliação do
governo incluindo as pesquisas
de julho e agosto, e não somente
as de junho e setembro. E a manchete interna do "Globo" foi a
que acabou melhor retratando o
fenômeno a que assistimos:
"Após queda acentuada, popularidade de Lula fica estável".
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