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Charges
A revolução pelo cartum
José Alberto Lovetro é o
cartunista JAL, presidente da
Associação dos Cartunistas
do Brasil. Seu comentário
a respeito da cobertura da
imprensa brasileira no caso
das charges que retratam Muhammad e da reação violenta
que provocaram nos países
muçulmanos:
"O grande chargista Otávio
provocou a ira dos católicos
quando satirizou a ida do time
do Santos à Basílica de Aparecida para pedir proteção, antes
de uma partida decisiva com o
rival Corinthians. Desenhou a
padroeira do Brasil com a cara
do Pelé. Uma multidão de religiosos cercou a porta do jornal
"Última Hora" de São Paulo,
que teve de encerrar o expediente por um bom tempo.
Otávio foi demitido e teve de
pedir proteção policial. No entanto, Henfil, outro grande
cartunista, fez dos Fradinhos o
ápice da escatologia e libertinagem com o pano de fundo
religioso e não recebeu o mesmo tratamento.
A diferença é que Otávio quis
homenagear Pelé, uma instituição nacional, quase um
deus, mas atingiu a cultura religiosa de um país essencialmente católico. Já Henfil foi
visceral contra a ditadura e
acertou em demonstrar que
todos os meios de resistência
eram válidos para esse fim. Foi
aceito como um inquisidor
dos métodos do poder militar
com apoio dos religiosos.
São dois casos que retratam
o "risco de cálculo" do cartunista em seu trabalho. O que
aconteceu nas charges publicadas na Dinamarca é que miravam a condenação da violência dos homens-bomba,
mas viraram apenas provocação religiosa para um povo onde religião e política se misturam. Desnecessário o uso do
profeta Muhammad para passar o recado.
Em nosso documentário
"Pasquim, a Revolução pelo
Cartum" (TV Sesc/Senac-1999), Millôr nos coloca que
"quando algum assunto cai nas
mãos dos cartunistas, não há
mais salvação". O poder da
charge cria e destrói ícones
com seu simbolismo exacerbado. A função do humor é
questionar o poder a todo o
momento. Por isso é altamente
revolucionário.
O que tem faltado às diversas
páginas e ao tempo gastos na
imprensa sobre esse caso é
uma necessária discussão sobre o papel da charge. Houve
casos de jornais na TV que um
dia denominavam as charges
de caricaturas e, no outro, de
quadrinhos. Uma vergonha
para quem fez faculdade de
jornalismo e nem sabe o que é
charge. Palavra vinda do francês, charge quer dizer "carga".
Uma carga sobre um assunto
factual e jornalístico.
Faltou à imprensa informar
a respeito da linguagem da
charge e entrevistar chargistas
sobre a discussão "liberdade de
imprensa versus linguagem
corrosiva do desenho de humor". Não vi nada disso levado
a fundo".
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