São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Tudo que é sólido se desmancha no fim

Na campanha eleitoral paulistana do primeiro turno de 2008, a Folha fez um bom trabalho. A série DNA Paulistano e as reportagens semanais sobre as propostas para as mais relevantes políticas públicas municipais dos cinco principais candidatos deram ao leitor informação sólida para ajudá-lo a definir sua escolha.
O tratamento aos três primeiros colocados nas pesquisas foi razoavelmente justo. O tom crítico prevaleceu em relação às propostas dos três. Ocorreram exageros e injustiças, que apontei na coluna de 5 de outubro, mas nenhum extremamente grave.
É uma lástima que todo esse esforço e seus resultados se tenham desmanchado no segundo turno. O debate sobre políticas públicas e projetos de governo se esvaiu no amontoado de textos sobre denúncias e insinuações trocadas entre os candidatos.
O equilíbrio editorial dissipou-se. O jornal tendeu claramente para Kassab. Nem tanto pelas reportagens. Eu contei 10 matérias negativas sobre ele e 14 sobre Marta; 11 positivas para ele e 5 para ela.
Mas colunas e artigos fizeram toda diferença. Anotei 13 textos opinativos com críticas a Marta e nenhum contra Kassab. No cômputo final, Kassab foi favorecido.
Não que isso possa ter grande influência sobre o resultado das urnas hoje. A pesquisa acadêmica comprova que jornais têm poder bastante reduzido de determinar o voto do cidadão. Mas eles precisam se manter fiéis a seu compromisso de buscar máxima isenção, apartidarismo, equanimidade.
Ainda pior foi a impressão que as edições da última semana passaram, pelo menos para este leitor: a de que o jornal já tratava o pleito como episódio superado, decidido. Pelo pouco espaço que dedicou, a ausência de criatividade nas pautas e de empenho na execução do trabalho, pelo quase automatismo editorial.
Pena que um início tão auspicioso tenha redundado num final desanimador.


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