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REFLEXÃO
"Sem deslumbramento"
Marcelo Coelho é colunista
da Folha, membro do seu
Conselho Editorial e autor de
"Gosto se discute" (Editora
Ática):
"Acho muito difícil, do ponto de vista jornalístico, ignorar
o que acontece com as celebridades. Não só porque o leitor
estaria em tese interessado no
assunto. Acho mais importante o argumento de que o tema
celebridades é de fato decisivo
em nossa época.
De Lula a Tony Blair, de Berlusconi a Bush a linguagem do
poder político se impregnou
completamente do imaginário
televisivo. Todos esses governantes exercem um papel
meio decorativo e não se distinguem dos heróis e vilões das
novelas. Diante da plastificação das lideranças políticas, é
como se o público sentisse falta
de pessoas comuns, que dizem
palavrão e armam barracos;
volta e meia essas pessoas se
elevam à condição de celebridades, graças à beleza ou a algum tipo de talento.
Contrastando com a linguagem falsa das "celebridades"
da política, as "celebridades"
dos escândalos, dos casamentos milionários e dos esbanjamentos parecem até trazer um
componente de verdade humana: mostram os prazeres e
as misérias que, talvez, na vida
política e empresarial, também
existam, mas se ocultam um
pouco.
Como a imprensa deve tratar
disso? Naturalmente, sem deslumbramento. Mas o que é o
contrário do deslumbramento? O cinismo, a desmistificação, a crítica? A meu ver, as
próprias celebridades se encarregam disso: sabem, declaram,
ostentam a própria banalidade, o próprio cinismo. Não há
idealização do que fazem; o espetáculo de esbanjamento que
oferecem não surge como "nobreza", "sucesso", "excelência", mas como esbanjamento
mesmo.
Acho que muitas vezes a Folha tem acertado na cobertura,
quando trata o aspecto comercial, sociológico, desses acontecimentos, sem se deslumbrar
nem entrar no jogo do cinismo
complacente.
Entre a coluna social, o jornalismo de celebridades e a cobertura da farsa política de
Brasília o caminho, a meu ver,
é mais convergente do que parece, se soubermos registrá-lo
com frieza, o que é diferente do
oba-oba, mas também diferente do puro deboche".
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