São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2005

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REFLEXÃO

"Sem deslumbramento"

Marcelo Coelho é colunista da Folha, membro do seu Conselho Editorial e autor de "Gosto se discute" (Editora Ática):
"Acho muito difícil, do ponto de vista jornalístico, ignorar o que acontece com as celebridades. Não só porque o leitor estaria em tese interessado no assunto. Acho mais importante o argumento de que o tema celebridades é de fato decisivo em nossa época.
De Lula a Tony Blair, de Berlusconi a Bush a linguagem do poder político se impregnou completamente do imaginário televisivo. Todos esses governantes exercem um papel meio decorativo e não se distinguem dos heróis e vilões das novelas. Diante da plastificação das lideranças políticas, é como se o público sentisse falta de pessoas comuns, que dizem palavrão e armam barracos; volta e meia essas pessoas se elevam à condição de celebridades, graças à beleza ou a algum tipo de talento.
Contrastando com a linguagem falsa das "celebridades" da política, as "celebridades" dos escândalos, dos casamentos milionários e dos esbanjamentos parecem até trazer um componente de verdade humana: mostram os prazeres e as misérias que, talvez, na vida política e empresarial, também existam, mas se ocultam um pouco.
Como a imprensa deve tratar disso? Naturalmente, sem deslumbramento. Mas o que é o contrário do deslumbramento? O cinismo, a desmistificação, a crítica? A meu ver, as próprias celebridades se encarregam disso: sabem, declaram, ostentam a própria banalidade, o próprio cinismo. Não há idealização do que fazem; o espetáculo de esbanjamento que oferecem não surge como "nobreza", "sucesso", "excelência", mas como esbanjamento mesmo.
Acho que muitas vezes a Folha tem acertado na cobertura, quando trata o aspecto comercial, sociológico, desses acontecimentos, sem se deslumbrar nem entrar no jogo do cinismo complacente.
Entre a coluna social, o jornalismo de celebridades e a cobertura da farsa política de Brasília o caminho, a meu ver, é mais convergente do que parece, se soubermos registrá-lo com frieza, o que é diferente do oba-oba, mas também diferente do puro deboche".


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