São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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Não há almoço de graça

A TAM faz 56 vôos semanais de São Paulo para Buenos Aires. A Gol, 28. A Aerolineas Argentinas, 27. A LAN, sete. A British Airways, quatro.
Embora com 3% das 122 decolagens, a British foi a única companhia aérea citada na reportagem principal de Turismo da quinta retrasada, dedicada a Buenos Aires. Dado sobre a ocupação de suas aeronaves comprova o sucesso da operação para a Argentina.
Não há mesmo obrigação de considerar e noticiar apenas as empresas que voam mais.
Na página cujo relato trata de hotéis, os eleitos para serem fotografados foram o Hyatt, o Faena e o Alvear. A seleção de imagens é parte do ofício de editar. O serviço, adiante, enumerou 20 hotéis.
Quem sabe as opções foram mera coincidência, estatisticamente isso é uma hipótese.
A coincidência incontestável foi o destaque para quem pagou a viagem dos dois autores dos textos. Outros, não a Folha, bancaram as despesas de transporte e hospedagem.
O repórter foi convidado do Hyatt. A repórter, da British e, segundo nota de rodapé, da "rede de hotéis Leading" -à qual são associados, de alguma forma, o Faena e o Alvear. A Folha, em vez de informar de modo transparente que a repórter fora convidada do Faena, disse que o anfitrião era a rede Leading, cuja relação com o hotel os leitores ignoram. Só a descobri na internet.
É jornalisticamente questionável a incidência de viagens "a convite" na cobertura sobre turismo nas publicações brasileiras, a Folha incluída.
O esclarecimento sobre a condição de "jornalista convidado" é uma conquista da qual a Folha foi pioneira.
Mas não elimina o problema da conexão entre quem publica e quem paga. Se o jornal custeasse a viagem, não haveria restrição à escolha das fotos dos hotéis divulgados.
Não é o que pensa o editor de Turismo, Silvio Cioffi, que na crítica diária do ombudsman respondeu a comentários meus: "Gostaria de esclarecer que os relatos jornalísticos não deram atenção "apenas aos patrocinadores da viagem". Um repórter viajou a convite do hotel Faena, outro do Hyatt".
"Resolvemos incluir o Alvear e, como sempre fazemos, respeitando o "Manual", incluímos nesta edição a menção aos convites -com transparência. Publicamos ainda, com destaque e pluralismo, exatos 31 pacotes de viagens para a capital argentina e serviço bem apurado de 20 hotéis e albergues (a partir de US$ 9/dia)."
"Idem os preços e sites de todas as companhias aéreas que voam para Buenos Aires (são 120 vôos semanais). Crítica, a edição dá título ainda para furtos de carteira, passaportes e máquina de foto."
O serviço foi amplo, mas a deferência em textos e fotos foi para os patrocinadores. Jornalismo de serviço não deve ser promocional. Seu papel é ajudar o leitor-turista a se guiar e evitar armadilhas.
O tom do caderno foi tão oba-oba que a Primeira Página do jornal titulou: "Buenos Aires - Agrada a todos os gostos e bolsos". Discordo: há quem não goste e quem não tenha dinheiro para viajar.


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