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Sexo, drogas e rock and roll
Um caderno para adolescentes não pode ignorar assuntos como sexo e drogas, a não ser sob o risco de parecer autista
COMO SEMPRE OCORRE quando
o suplemento Folhateen
trata de temas de sexo e drogas, nesta semana diversos leitores
se manifestaram ao ombudsman
para criticar o conteúdo da reportagem principal da edição de segunda, que abordava a questão de
pais que fumam maconha junto
com os seus filhos.
Em primeiro lugar, o material
está bem feito, é isento, dá voz a
quem concorda e adota essa prática tanto quanto a quem discorda
dela e a condena.
Também é indispensável registrar que esse procedimento familiar ocorre na realidade social, embora não seja universalizado, em
especial nos estratos que compõem
boa parte do leitorado da Folha.
Abordá-lo, portanto, é jornalisticamente justificável e o que foi
mostrado ao leitor não tem problemas relevantes.
É claro que os leitores têm o direito de não gostar e reclamar, e que
o jornal tem o dever de levar em
conta seus argumentos.
Curiosamente, no entanto, quem
se manifesta majoritariamente não
faz parte do público a que se destina
o caderno. Reli toda a correspondência sobre ele que me chegou às
mãos neste ano: 80% provieram de
não adolescentes; muitos ressaltavam não ter filho adolescente; 50%
atacavam material que tinha a ver
com sexo ou drogas.
Das mensagens originárias do
público-alvo do Folhateen, metade fazia correções de erros factuais, 20% eram sugestões de pauta, 30% criticavam o conteúdo,
mas só metade destas (15% do total) tinham a ver com sexo, nenhuma com drogas.
Pode ser que os adolescentes não
se queixem porque nem leem o suplemento (mas, se fosse assim,
suspeito que a empresa que edita o
jornal já o teria tirado de circulação). Pode ser que gostem do conteúdo ou que pelo menos não desgostem a ponto de se mobilizar.
Não é possível ter certeza.
O que é seguro é que sexo, drogas
e rock and roll despertam o interesse e a curiosidade de muitos
adolescentes e possivelmente estão no centro da atenção de vários.
Um veículo que se dirige a eles não
pode ignorar esses assuntos, a não
ser sob o risco de parecer autista.
Muitas das queixas dos adultos
indicam que eles gostariam que as
matérias fossem mais assertivas na
condenação do uso de drogas e da
prática indiscriminada de sexo, definissem com clareza o que é certo e
o que é errado e tentassem convencer os jovens a optar pelo certo.
Pode ser uma boa abordagem.
Mas quem tem filho adolescente,
como eu, sabe que o discurso impositivo, que subestima a capacidade
de julgamento e o espírito crítico do
interlocutor, quase sempre é tiro
pela culatra.
É um drama lidar com a adolescência. Para quem já a deixou faz
tempo, é recomendável pelo menos
tentar lembrar e reconstruir seus
sentimentos, ideias, dúvidas, convicções naqueles anos terríveis. Ler
livros e ver filmes que conseguem
captar e reproduzir o estado d'alma
do adolescente, como os indicados
abaixo, ajuda muito nessa tarefa.
PARA LER
"O Apanhador no Campo de Centeio", de J. D. Salinger, tradução de Álvaro Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster, Editora do Autor (a partir de
R$ 34,93)
PARA VER
"Conta comigo", de Rob Reiner, com River Phoenix, 1986 (a partir de R$ 19,90), e "Sociedade dos
Poetas Mortos", de Peter Weir, com Robin Williams, 1989 (a partir de R$ 19,90)
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Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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