São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009

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Sexo, drogas e rock and roll

Um caderno para adolescentes não pode ignorar assuntos como sexo e drogas, a não ser sob o risco de parecer autista

COMO SEMPRE OCORRE quando o suplemento Folhateen trata de temas de sexo e drogas, nesta semana diversos leitores se manifestaram ao ombudsman para criticar o conteúdo da reportagem principal da edição de segunda, que abordava a questão de pais que fumam maconha junto com os seus filhos.
Em primeiro lugar, o material está bem feito, é isento, dá voz a quem concorda e adota essa prática tanto quanto a quem discorda dela e a condena. Também é indispensável registrar que esse procedimento familiar ocorre na realidade social, embora não seja universalizado, em especial nos estratos que compõem boa parte do leitorado da Folha.
Abordá-lo, portanto, é jornalisticamente justificável e o que foi mostrado ao leitor não tem problemas relevantes. É claro que os leitores têm o direito de não gostar e reclamar, e que o jornal tem o dever de levar em conta seus argumentos.
Curiosamente, no entanto, quem se manifesta majoritariamente não faz parte do público a que se destina o caderno. Reli toda a correspondência sobre ele que me chegou às mãos neste ano: 80% provieram de não adolescentes; muitos ressaltavam não ter filho adolescente; 50% atacavam material que tinha a ver com sexo ou drogas.
Das mensagens originárias do público-alvo do Folhateen, metade fazia correções de erros factuais, 20% eram sugestões de pauta, 30% criticavam o conteúdo, mas só metade destas (15% do total) tinham a ver com sexo, nenhuma com drogas.
Pode ser que os adolescentes não se queixem porque nem leem o suplemento (mas, se fosse assim, suspeito que a empresa que edita o jornal já o teria tirado de circulação). Pode ser que gostem do conteúdo ou que pelo menos não desgostem a ponto de se mobilizar. Não é possível ter certeza.
O que é seguro é que sexo, drogas e rock and roll despertam o interesse e a curiosidade de muitos adolescentes e possivelmente estão no centro da atenção de vários. Um veículo que se dirige a eles não pode ignorar esses assuntos, a não ser sob o risco de parecer autista.
Muitas das queixas dos adultos indicam que eles gostariam que as matérias fossem mais assertivas na condenação do uso de drogas e da prática indiscriminada de sexo, definissem com clareza o que é certo e o que é errado e tentassem convencer os jovens a optar pelo certo. Pode ser uma boa abordagem.
Mas quem tem filho adolescente, como eu, sabe que o discurso impositivo, que subestima a capacidade de julgamento e o espírito crítico do interlocutor, quase sempre é tiro pela culatra.
É um drama lidar com a adolescência. Para quem já a deixou faz tempo, é recomendável pelo menos tentar lembrar e reconstruir seus sentimentos, ideias, dúvidas, convicções naqueles anos terríveis. Ler livros e ver filmes que conseguem captar e reproduzir o estado d'alma do adolescente, como os indicados abaixo, ajuda muito nessa tarefa.


PARA LER

"O Apanhador no Campo de Centeio", de J. D. Salinger, tradução de Álvaro Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster, Editora do Autor (a partir de R$ 34,93)

PARA VER
"Conta comigo", de Rob Reiner, com River Phoenix, 1986 (a partir de R$ 19,90), e "Sociedade dos Poetas Mortos", de Peter Weir, com Robin Williams, 1989 (a partir de R$ 19,90)




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Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Carlos Eduardo Lins da Silva/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
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