São Paulo, domingo, 30 de julho de 2000


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Canarinho ciclotímico

Poucos temas rivalizam com a seleção brasileira na capacidade de provocar alterações bruscas de comportamento na imprensa.
Bem cedo na quinta-feira, o resumo da vitória sobre a Argentina foi minha primeira leitura na capa da Folha. A chamada informava que o Brasil tivera sua melhor atuação até o momento nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2002, "após cinco partidas com desempenho, no máximo, razoável".
Pulei para a capa de Esporte. De acordo com a reportagem principal do caderno, o 3 a 1 acontecera "depois de cinco atuações que oscilaram entre o sofrível e o razoável".
O sofrível me pareceu familiar. Mas como razoável, perguntei na crítica interna, se até o dia anterior a palavra não existia nos relatos e análises da campanha da seleção? Em minha lembrança, a única oscilação imaginável a partir desses textos era a que vai do ruim ao péssimo.
Engano da ombudsman, respondeu a Redação, que foi buscar nos arquivos provas de que o jornal havia descrito os dois primeiros jogos, contra Colômbia e Peru, em termos que correspondem a uma avaliação mediana.
Sobre o 0 a 0 frente à Colômbia: "superou os imprevistos na preparação"; "ao contrário do esperado, tomou a iniciativa do jogo, mantendo os colombianos na defesa". Sobre o 1 a 0 contra o Peru: "apesar de não ter empolgado, conseguiu superar o trauma de jogar fora de casa".
No varejo, o argumento se sustenta. No atacado, o fiasco das partidas seguintes mudou radicalmente o tom da cobertura, que no dia do embate com a Argentina apresentou "a campanha do time de Luxemburgo como a pior de uma seleção brasileira ao longo dos tempos".
Se houve algo razoável ao longo desse percurso, pode-se acusar a Folha (e concorrentes da mesma maneira) de um certo catastrofismo. Se não houve, o jornal reescreveu a história em razão do resultado positivo diante do "pior inimigo".
Por falar em reescrever a história, vale a pena citar o texto, publicado na mesma edição, sobre a visita de Ronaldo ao hotel em que a seleção estava hospedada em São Paulo, horas antes do jogo.
Segundo a Folha, o atacante viera dar apoio aos jogadores e ao técnico "mesmo sofrendo com uma séria contusão no joelho e sendo, talvez, o maior símbolo da péssima atuação do Brasil na final da Copa de 1998". Bola pra frente, mas por que o "talvez"?


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