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Prognóstico certo

Contestadas em agosto, previsões do Banco Central sobre crise internacional e desaquecimento da economia no Brasil vão se confirmando

Passados três meses, não mais se ouve o alarido das críticas endereçadas ao Banco Central por ter tomado a decisão de reduzir a taxa básica de juros, no final de agosto. A atitude causou surpresa, irritou observadores econômicos ligados ao mundo financeiro e desconcertou setores do mercado.

A comprovação de pelo menos parte do diagnóstico apresentado pelo Banco Central naquela ocasião acabou por dissipar o azedume dos que reagiram com mais veemência à mudança de rumos na política monetária.

A situação internacional, em especial na Europa, deteriorou-se ainda mais. A eurozona caminha para a recessão e seus males contaminam os demais países.

Em outubro, tornou-se patente o rápido esfriamento da economia brasileira. Há menos empregos formais novos, os salários deixam de subir, a indústria paulista não para de reduzir sua produção e o crescimento do país no terceiro trimestre pouco passou de zero.

No que diz respeito à atividade econômica, era este o cenário futuro no qual o BC baseava sua decisão de reduzir a Selic.

Críticos ponderados observaram, na época, que a autoridade monetária adotava uma atitude de risco, em aparente dissonância com o tradicional perfil conservador do guardião da moeda. Objetaram que a inflação superaria o teto da meta e que a nova orientação baseava-se numa previsão incerta -o agravamento da crise mundial, cujos efeitos sobre o Brasil pareciam, ademais, duvidosos.

As críticas à suposta tolerância do BC com a inflação ainda continuam, embora tenham se tornado mais discretas.

Pode-se dizer que qualquer decisão sobre juros é baseada em prognósticos de risco. Além disso, se havia a possibilidade de erro no sentido de um relaxamento precoce da política monetária, também existia o risco simétrico de asfixiar a economia com juros altos num momento de desaceleração.

É preciso lembrar que o BC tomou sua decisão baseado também na expectativa de que o governo contivesse despesas. E, em certa medida, o Ministério da Fazenda cumpriu sua parte na tarefa.

Permanece, todavia, a dúvida se os aumentos de preços irão regredir no ritmo esperado pela autoridade monetária -o que se poderá verificar com mais clareza no primeiro trimestre do ano que vem.

É da boa coordenação entre BC e Fazenda que dependerá o sucesso do controle da inflação, do crescimento do PIB e da redução da taxa de juros a patamares normais.

As medidas recentes vão se mostrando adequadas, mas não é desprezível o risco de que, mais uma vez, como ocorreu em 2009, acabe por triunfar a tentação equivocada de afrouxar controles e aumentar os gastos governamentais.

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