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Raul Juste Lores

Orgulho oriental

SÃO PAULO - Toda criança chinesa aprende que a China era a maior potência mundial em 1800 e que sua dolorosa decadência começa a partir das guerras contra a Inglaterra. Invasões japonesas, alemãs e francesas resultaram em "um século de humilhação".

Até hoje, a imprensa local martela o termo "complô internacional para derrubar a China". Há muito que o nacionalismo substituiu o comunismo como ideologia oficial.

Todo império ensina sua história de forma um tanto acrítica. Americaninhos e inglesinhos também acham que seus países sempre foram "forças do bem a civilizar o planeta" e desconhecem algumas barbaridades cometidas pelos antepassados.

A declaração do presidente chinês, Hu Jintao, de que o país precisava "combater" a colonização cultural ocidental, faz muito sentido para quem acompanha o país.

Primeiro, porque até o fim do ano, haverá a troca de guarda no politburo do Partido Comunista. Quem fala mais grosso ganha aliados.

Mas, mais importante, a China quer de volta seu status de superpotência. O orçamento do Ministério da Cultura dobrou em três anos. Foram criados uma CNN chinesa em vários idiomas e 400 institutos Confúcio pelo mundo, para ensinar mandarim e promover a cultura do país.

Melhorar a imagem do "made in China" é prioridade e a Olimpíada de Pequim foi só uma amostra. Mas fora alguns filmes de artes marciais, a cultura chinesa é doméstica.

Num país onde os Beatles são desconhecidos, deve escandalizar os velhinhos comunistas que Beyoncé e Lady Gaga sejam superstars. A TV chinesa não se cansa de piratear reality shows como o "American Idol." A estatal CCTV ainda é bem mais alegrinha que a federal TV Brasil.

O regime quer combater a sua versão do "complexo de vira-lata". Mas a linha "exótico-ridicularizante" com que se trata a China prevalece. E não ajuda a entender essa potência com impacto sobrenatural sobre o Brasil.

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