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Salamaleques na CPI
Poucas vezes se terá visto, numa comissão parlamentar de inquérito, encontro tão ameno, convergência tão delicada, concurso tão harmonioso. Não foi questionamento, muito menos inquérito, o que se realizou na quinta-feira (12), quando o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apresentou-se à CPI.
Fora convocado para esclarecer seu suposto envolvimento nos esquemas desvendados pela Operação Lava Jato. Aguardava-se a sessão com certa ansiedade, uma vez que, com base em delações premiadas, o Ministério Público Federal pediu que fossem autorizadas investigações sobre o deputado.
Reconheçam-se que, até o momento, são frágeis os indícios de que Cunha tenha tido participação no escândalo de propinas organizado na Petrobras.
O próprio procurador-geral da República, Rodrigo Janot, admite em sua petição ao Supremo Tribunal Federal não ser possível precisar no momento se valores foram entregues diretamente ao presidente da Câmara. Acrescenta que Cunha recebeu vultosas quantias, por meio de doações oficiais, de empreiteiras agora sob suspeita.
Não foi difícil para o peemedebista apontar o caráter vago das manifestações do Ministério Público Federal. Ocorre que o procurador-geral requer apenas, na forma da lei, que se possa dar continuidade a investigações capazes de confirmar ou dissipar de vez as suspeitas levantadas. Estas, embora tênues, não devem ser ignoradas.
No habitual estilo beligerante, Cunha reagiu à iniciativa de Janot levantando a seu turno outras suspeitas, gravíssimas. Considerou que o procurador-geral da República teria como objetivo, em conluio com o governo, desacreditar um presidente da Câmara conhecido pela propensão oposicionista.
O raciocínio convence pouco, sabendo-se o quanto as ações do Ministério Público têm sido incômodas, para não dizer devastadoras, para os interesses do Planalto.
Mas não houve na CPI quem questionasse os argumentos de Eduardo Cunha. Num espírito de congraçamento e banquete, sucederam-se elogios ao peemedebista.
Do líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), a seu equivalente no PSDB, Carlos Sampaio (SP), salamaleques e bombons, apologias e gorjeios cercaram o investigado --cujo poder e prestígio crescem na mesma medida de sua disposição para a afronta e para a intimidação institucional.