Norbert Konkoly
A crise migratória na Europa
Todo país soberano tem o direito de saber quem são as pessoas que cruzam suas fronteiras e quantas delas são realmente refugiadas
Nas últimas semanas, a imprensa, tanto a brasileira como a internacional, vem publicando reportagens e artigos sobre a crise migratória na União Europeia, com foco especial na Hungria. Para o melhor entendimento dos desafios, gostaria de compartilhar algumas considerações sobre o assunto.
A Europa está enfrentando a maior onda de migração desde a Segunda Guerra Mundial. Neste ano, mais de 200 mil imigrantes cruzaram a fronteira da Hungria e pediram asilo. O número pode alcançar de 400 mil a 500 mil até o fim do ano –dez vezes superior ao registrado no ano passado. É como se o Brasil tivesse que receber, cadastrar e auxiliar 8 milhões de imigrantes e refugiados durante um ano.
A Hungria é um pequeno país com uma grande tarefa. Com uma população igual à de Pernambuco, deve controlar as fronteiras externas da União Europeia na região, cadastrar os imigrantes e refugiados que entram por lá, fornecendo-lhes abrigo, alimentação, assistência médica, ajuda financeira e processar suas aplicações de asilo.
Todo país soberano tem o direito de conhecer a identidade de quem cruza suas fronteiras e de saber quantos são realmente refugiados.
As fronteiras da Hungria não estão fechadas. Na fronteira com a Sérvia, temos sete pontos de entrada –um a cada 25 km. Todos aqueles que solicitam asilo podem e devem entrar por ali. Os requerentes são conduzidos pelas autoridades aos centros de acolhimento onde recebem toda a ajuda humanitária necessária. A Hungria ajuda além dos seus limites, embora o nosso sistema esteja sobrecarregado.
Os húngaros não são intolerantes porque sabem, infelizmente, o que significa ser refugiado. Antes de 1990, centenas de milhares de húngaros fugiram da Hungria e somos, até hoje, gratos aos países que os acolheram, incluído o Brasil. Nas últimas décadas, o nosso país concedeu asilo a milhares de pessoas, entre elas, a muitas famílias sírias.
Os húngaros não têm problema com os imigrantes só com os que não respeitam as nossas leis. Muitos passam pela fronteira ilegalmente, não cooperam com as autoridades e atacam as nossas fronteiras.
Em 16 de setembro, centenas de migrantes atacaram agressivamente a nossa fronteira lançando pedras, garrafas e outros objetos contra a polícia húngara e derrubaram uma das barreiras. A polícia usou jatos de água e gás lacrimogêneo para reverter o ataque.
Para solucionar a questão, propomos que a comunidade internacional atue nas raízes da crise –e não apenas remedeie as consequências–, ajudando a estabilizar os países de origem dos refugiados, mudando as condições que levaram à migração em massa.
Propomos também que a União Europeia assuma o financiamento dos campos de refugiados na Turquia, na Jordânia e no Líbano, além de construir novos campos para melhorar as condições dos refugiados.
O governo húngaro propõe a criação de uma força comum da União Europeia para defender as fronteiras da Grécia para que o fluxo migratório chegue aos países de acolhimento de forma segura e legalmente prevista.
A Hungria sempre concedeu e sempre concederá asilo àqueles que fogem de territórios em conflito. Ao mesmo tempo, protegeremos o nosso país e a Europa dos grupos que atacam as nossas fronteiras, chegam com violência e que não respeitam as nossas leis.
É o que temos feito e o que faremos no futuro. É o que podemos garantir aos nossos amigos e aliados. Todos podem contar com isso.