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Hélio Schwartsman

Cisnes negros

SÃO PAULO - Em sua coluna, ontem, Rubens Ricupero criticou com incomum veemência os economistas por sua incapacidade de lidar com a crise financeira de 2008, cujos desdobramentos se fazem sentir até hoje.

Subscrevo quase integralmente as ideias do articulista. Só discordo quando ele afirma que a causa da imprevisão não foi "a falha de imaginação ou inteligência", mas "a ideologia, o disfarce de interesses de classe e setores sob roupagem científica". Não que esse elemento não tenha contribuído para a ruína, mas receio que o problema tenha raízes mais profundas, que dizem respeito à própria estrutura matemática do mundo.

Um dos campeões em popularizar essa visão é Nassim Taleb, autor de "O Cisne Negro". Para Taleb, seres humanos em geral, aí incluídos os estatísticos, são ruins em entender o acaso, em especial a aleatoriedade selvagem (não aquela bem mapeada dos cassinos), que se materializa na forma de eventos raros e extremos que não podem por definição ser previstos.

Para piorar as coisas, o mundo moderno, muito em virtude da globalização e da crescente interconexão entre economias e pessoas, apresenta cada vez mais fenômenos ditados por esse acaso não domesticado. No paradigma clássico, eventos aleatórios não são tão importantes: um dentista, quando enriquece, o faz ao longo de uma carreira de décadas de paciente trabalho. Já a fortuna de um operador financeiro pode ser feita (e desfeita) quase instantaneamente numa única transação, assim como a do músico ou escritor, que precisa acertar numa só obra que seja adquirida por milhões de consumidores.

Num planeta cada vez mais regido por esse acaso agreste, o prudente seria tomar medidas para reduzir o risco. O que o mercado fez, entretanto, foi criar ferramentas financeiras que diminuíram a volatilidade, dando a ilusão de segurança, mas ampliaram a exposição aos "cisnes negros", que é como Taleb chama tais eventos extremos. O resultado está aí.

helio@uol.com.br

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