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Zélia Cardoso de Mello

TENDÊNCIAS/DEBATES

Existe alternativa viável a Mitt Romney nas primárias republicanas?

não

O eleitorado procurou opções, mas não achou

Não há alternativa viável a Romney. Entre os republicanos, ele é quem tem maior chance de se sair bem contra Obama. É tarde para que outro candidato apareça.

O eleitorado republicano tem procurado alternativas. Houve um rápido romance com Michele Bachmann. Depois veio Rick Perry, o governador do Texas, que chegou 31,7% nas pesquisas em setembro.

A seguir, em novembro, Herman Cain chegou a 26%. Aí os eleitores se encantaram com Gingrich, que foi a 35% em dezembro e ganhou na Carolina do Sul -mas, de lá pra cá, não conseguiu mais nenhuma vitória.

Ron Paul continua no páreo, apesar de ninguém acreditar que ele pode ser o escolhido. Acredita-se que ele tenha a intenção de criar bases para o posterior lançamento de um terceiro partido, o libertador ("libertarian"), a ser liderado pelo seu filho, o senador Rand Paul.

Finalmente, em fevereiro, os republicanos se apaixonaram por Rick Santorum, que chegou a registrar 34,2% nas pesquisas. As declarações contra a pílula anticoncepcional, contra o aborto e contra o casamento homossexual agradaram a base evangélica conservadora.

Mas Santorum se empolgou com o sucesso. Começou a falar tudo o que pensa. Até os republicanos se assustaram: ele criticou a separação entre Estado e igreja e cometeu um erro fatal ao comprar uma briga -errada no mérito e no alvo- com um presidente morto e reverenciado, Kennedy.

Santorum disse que ouvir o discurso de Kennedy sobre a separação entre igreja e Estado dava vontade de vomitar. Depois criticou Obama dizendo que faculdade é para esnobes. Imensa gafe, já que, além da casa própria, outro sonho americano é mandar o filho para a faculdade.

Historicamente, a esta altura das primárias, já deveria haver um vencedor. A inexistência mostra a resistência a Romney, que não rompe os 34%. Mas, ao mesmo tempo, mostra como Romney é o candidato mais preparado: ele tem a organização e os recursos financeiros necessários para se manter na campanha.

É verdade que ele tem pouco apelo popular. Ele tenta se parecer com os "99%", mas sempre falha. Abstraindo as palavras, é mais empolgante ver Santorum falar do que Romney. Se Romney fosse uma ação, diríamos que ele tem resistência, mas também tem suporte.

Eu acredito que, depois de Michigan, Romney vai romper a resistência e crescer. Michigan é considerado um Estado importantíssimo nas eleições gerais, pois pode ir com os democratas ou com os republicanos. Na terça-feira, 10% dos eleitores eram democratas, 31% independentes e 59% republicanos.

A vitoria de Romney, ainda que por pequena margem, mostra como o candidato tem condições de ganhar outras facções, diferentemente do radical Santorum.

Em Michigan, aliás, não se sabe quantos democratas votaram em Santorum com a intenção de atrapalhar. O cineasta Michael Moore, democrata convicto, mora em Michigan e estava pedindo para que os entusiastas do seu partido votassem em Santorum. A ideia é que a Obama está garantido se Santorum for o candidato.

Acredito que, na próxima semana, Romney vença a resistência: dos dez Estados, ele tem a vitória garantida em pelo menos quatro: Virginia, Massachussets, Vermont e Idaho.

É possivel que Santorum vença em Ohio (e Gingrich vença na Georgia). Entretanto, nesses Estados, a regra "o ganhador leva todos" só se aplica para quem tem mais de 50% dos votos, algo que não vai acontecer, pois há muitos candidatos.

Há um risco pequeno de que se chegue à convenção sem que nenhum candidato tenha os 1.144 delegados necessários. Um novo nome não conseguiria se viabilizar nos 67 dias entre a convenção e as eleições. Esse seria um cenário de pesadelo para os republicanos.

ZÉLIA CARDOSO DE MELLO, 58, é economista. Foi ministra da Fazenda (governo Collor). Trabalha como consultora em Nova York

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