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Hélio Schwartsman

Destruição criativa

SÃO PAULO - O desemprego na zona do euro bateu nos 10,8%, a pior taxa desde 1997, chegando a extremos como 50% em grupos específicos como entre os jovens gregos e espanhóis. A resposta dos países tem sido desregulamentar o mercado de trabalho, na esperança de que, ao facilitar as demissões, empresas possam voltar a crescer.

Os sindicatos e a população, é óbvio, não gostam e ameaçam com greves, protestos e votos na oposição.

Se a iniciativa vai ou não dar certo, eu não sei dizer. O que dá para afirmar é que historicamente a geração de riqueza sempre esteve associada à destruição de empregos.

Um exemplo eloquente é o do trabalho no campo nos EUA. Em 1800, era preciso manter 95 de cada 100 norte-americanos em fazendas para alimentar o país. Em 1900, eram 40. Hoje, são apenas três. Esse enorme contingente que perdeu seu emprego na lavoura foi para as cidades, onde se dedica a outras atividades, muito mais especializadas e produtivas, e engrossa as fileiras do mercado consumidor, cuja existência faz com que valha a pena desenvolver invenções e novos produtos. Para economistas como Julian Simon, o que gera a riqueza, em última análise, são ideias. A imaginação humana é o recurso final.

A insistência na manutenção de empregos, tão comum entre trabalhadores, sindicalistas e políticos, pode tornar-se, paradoxalmente, uma força reacionária, que freia ganhos de produtividade. Isso fica claro na sobrevivência de profissões-fósseis, como ascensoristas, frentistas e cobradores de ônibus, que só existem por um misto de saudosismo com regulamentações arcaizantes.

Mais lógica é a posição de países escandinavos que, sob a rubrica "flexicurity", são flexíveis na dispensa do trabalhador, mas investem muito em treinamento e num bom seguro-desemprego. A demissão não fica menos traumática, mas o sistema ao menos tem coerência interna.

helio@uol.com.br

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