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Carlos Heitor Cony

Fantástico

RIO DE JANEIRO - A secretária andou arrumando a estante onde guardo livros de outros tempos e, de repente, esbarrei com alguns deles na mesa de trabalho.

Aleatoriamente, peguei um e comecei a reler. Era de dois autores alemães que atribuem a derrota de Hitler às intrigas, invejas, delações e traições entre os principais chefes nazistas, e não à superioridade militar e moral dos Aliados.

Segue um exemplo periférico do saco de gatos em que o Führer se apoiava. Numa visita ao rei da Itália, que desejava condecorar Alfred Rosenberg, ministro das Relações Exteriores da Alemanha, com a mais alta comenda da Casa de Savoia, os hierarcas mais importantes do nazismo foram convidados a um jantar no Palácio do Quirinale, sede oficial do soberano da Itália.

Num dos salões, estava armada a mesa do banquete com lugares marcados para cada autoridade. Num salão vizinho, cheio de convidados, alguém fazia o discurso saudando o agraciado. Aproveitando estarem todos em volta do rei, o marechal Goering, segundo homem na hierarquia nazista, sem ser percebido, deu um jeito de ir ao salão do banquete para examinar os cartões diante de cada prato. O pessoal do protocolo italiano havia colocado Rosenberg ao lado direito do rei, com Mussolini à esquerda.

Desapontado, Goering descobriu que não ficaria nos principais lugares. Como não havia ninguém por perto, o marechal trocou os cartões, colocando-se entre o rei e Mussolini, e rebaixando Rosenberg para uma ponta da mesa. Só então juntou-se aos demais no outro salão.

O Estado-Maior nazista vivia em guerra permanente entre si, em busca de prestígio, quem podia mais do que quem. Natural que perdesse a outra guerra. E não havia nenhum repórter do "Fantástico" para registrar o golpe baixo do marechal do Reich.

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