Índice geral Opinião
Opinião
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Marina Silva

Elevada expectativa

No Dia do Meio Ambiente, os governantes costumam posar para fotos plantando uma árvore. Seria interessante conhecer o destino de todas elas, plantadas em solenidades, talvez abandonadas logo depois. Mas o problema real não é plantar -gesto simbólico positivo-, se não fosse a devastação ambiental que a maioria de seus plantadores pratica nos outros dias do ano.

Após longa inércia, o "primeiro pacote ambiental" do governo brasileiro, às vésperas da Rio+20 e em meio a severas criticas do movimento socioambiental, contém ações importantes e necessárias, mas fica a anos-luz do que ocorreu às vésperas da Rio 92 e da Rio+10, quando foram criados a Terra Indígena Yanomami e o Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque, respectivamente.

Mandar, com dois anos de atraso, o Protocolo de Nagoya para o Congresso, homologar terras indígenas com atraso ainda maior, criar e ampliar parques uma semana após ter reduzido outros para dar lugar a discutíveis hidrelétricas e à mineração é demonstrar que o meio ambiente permanece fora do eixo do desenvolvimento, uma agenda menor.

O estímulo à venda de carros novamente deixou de lado qualquer orientação socioambiental. Nas obras de Belo Monte -e em todas do PAC-ignoram-se os impactos ambientais. Os vetos periféricos e parciais no Código Florestal ruralista anunciam um acordo para suspender temporariamente a devastação, enquanto os chefes de outras nações estiverem no Brasil, para retomá-la quando forem embora. O nível mais baixo de desmatamento só foi possível graças à legislação agora demolida.

O governo brasileiro, refém de um sistema político financiado e financiador de oligarquias e grupos econômicos atrasados, perde a chance de liderar o mundo na mudança para uma nova era, a do desenvolvimento sustentável.

Em acelerado retrocesso, vamos à Rio+20. O que se anuncia é um vexame de governos titubeantes diante de uma sociedade mais consciente e exigente. As negociações deixam antever documentos sem metas ou ações efetivas. A opinião pública global reclama por isso, enquanto os governos e seus operadores se empenham para baixar as expectativas.

Resta-nos a tarefa de continuar alertando para os graves problemas da perda de biodiversidade, da desertificação e do aquecimento do clima -há 20 anos anunciados como a mais perigosa ameaça ao equilíbrio da Terra. Tudo isso se mantém no mais alto nível de risco à manutenção da vida. Por isso, a cobrança por medidas urgentes, urgentíssimas e efetivas, para enfrentar esses graves problemas, deve permanecer no patamar mais elevado de nossas exigências éticas e políticas.

MARINA SILVA escreve às sextas-feiras nesta coluna.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.