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Hélio Schwartsman

A grande cisão

SÃO PAULO - Já se tornou lugar-comum dizer que o problema das drogas não tem solução, já que seres humanos buscam sabe-se lá o que em psicotrópicos desde a aurora dos tempos. Ao que parece, isso é mesmo verdade, mas Peter Watson, em "The Great Divide", apresenta uma hipótese ainda mais radical.

Para ele, as diferentes drogas disponíveis no Novo e no Velho Mundo foram determinantes para forjar a identidade dos povos que viviam nos diversos continentes, e isso teve impactos importantes na história.

"The Great Divide" é um daqueles livros surpreendentes e eruditos que, na esteira de autores como Jared Diamond, tenta apontar a contribuição de forças geofísicas para o desenvolvimento humano. Eras glaciais e outros fatores climáticos, bem como a variedade de animais e plantas domesticáveis, têm um papel na história.

O mesmo vale para as drogas. E a primeira coisa a observar é que a distribuição de plantas com propriedades psicoativas não é uniforme. Enquanto no Velho Mundo elas não excediam oito ou dez, no Novo variavam entre 80 e 100. Ademais, na Europa, a população logo trocou as drogas psicodélicas pelo álcool, que não é um alucinógeno muito poderoso.

Para Watson, essas experiências distintas tiveram consequências profundas. Nas Américas, as drogas utilizadas tornaram as religiões locais muito mais assustadoras e convincentes do que na Eurásia. Isso contribuiu para o desenvolvimento de uma ideologia bem mais conservadora e resistente a inovações.

No Velho Mundo, as religiões antigas acabaram convergindo para o monoteísmo, e práticas socialmente custosas -como o sacrifício humano- foram abandonadas. Nada disso aconteceu nas Américas, onde as populações também tinham de lidar com um clima muito mais hostil e com a menor oferta de alimentos cultiváveis. O resultado disso são as chamadas conquistas e o genocídio dos povos ameríndios.

helio@uol.com.br

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