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Acomodação cultural

Indicação de Marta Suplicy para a Cultura é antes fruto de interesses eleitorais do PT paulista do que de uma nova proposta política para a área

A troca da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, por Marta Suplicy (PT-SP) é uma decisão que atende a demandas da senadora, preterida na escolha do candidato petista à Prefeitura de São Paulo. Satisfaz, também, áreas da produção cultural descontentes, por variados motivos, com a gestão que ora se encerra.

A decisão veio no momento em que a ex-prefeita passou a apoiar de forma ostensiva a candidatura de Fernando Haddad em São Paulo. Reverteu-se, assim, a longa resistência da senadora a engajar-se na campanha do correligionário.

Como se sabe, a imposição do nome do ex-ministro da Educação pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indispôs a senadora com a cúpula do partido. Tudo indica que sua nomeação pela presidente Dilma Rousseff faz parte do entendimento que levou à mudança de atitude de Marta.

Haddad certamente necessita desse reforço. Embora venha melhorando seus índices nas pesquisas de intenção de voto, a ascensão é lenta: nos resultados do levantamento Datafolha concluído ontem, oscilou apenas um ponto percentual e se aproximou mais um pouco do tucano José Serra, que também oscilou um ponto -para baixo, porém. Celso Russomanno (PRB) prossegue na liderança, embora tenha perdido três pontos (cabe ressalvar que todas essas variações ocorreram dentro da margem de erro da pesquisa).

Sob o ângulo das relações da presidente com o petismo, a troca também parece vantajosa. Além da reconciliação com Marta, dá ao PT paulista novo assento na Esplanada dos Ministérios.

Ana de Hollanda, é verdade, contava com apoio de petistas do Rio que se articularam com produtores de cultura contrários às propostas da gestão anterior de relativizar direitos autorais e restringir benesses da Lei Rouanet.

A inabilidade política da agora ex-ministra no cargo a deixou em situação difícil. Mais de uma vez a presidente precisou reafirmar sua permanência, diante das sucessivas tentativas de desestabilização que enfrentou.

O pano de fundo dessa movimentação foi o embate entre correntes que gostariam de manter a influência no MinC e os que se opunham às diretrizes dos predecessores, Gilberto Gil e Juca Ferreira.

Embora tenha visibilidade, o ministério possui orçamento modesto, de R$ 2,2 bilhões, que equivale a apenas 0,2% das despesas não financeiras da União. Desse total, R$ 440 milhões foram sacrificados no ajuste fiscal promovido pelo Executivo federal.

Cabe agora à nova ministra dizer a que veio e apresentar um projeto de política cultural. Caso contrário, deixará claro que a cultura não é mais que uma moeda de troca -e desvalorizada- para acomodar interesses partidários.

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