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Jorge André Avancini

Futebol não tem de ser só paixão

Há bons exemplos -São Paulo, Inter, Santos- mas a discussão sobre profissionalizar os times, tirando velhos cartolas, é muito restrita. Seguimos provincianos

Na primeira metade dos anos 90, a Sociedade Esportiva Palmeiras e a multinacional italiana Parmalat foram responsáveis pela popularização de uma expressão até então pouco ou nada conhecida pelo universo esportivo brasileiro: clube-empresa.

Naquela época, as instituições esportivas, em especial os clubes de futebol, careciam do mínimo de organização administrativa. Contudo, a cogestão Palmeiras-Parmalat, como se tornou conhecida, criou um novo e promissor cenário para os anos vindouros. Nascia, em termos práticos, uma bem-sucedida iniciativa de transformação do reduto de velhos cartolas em uma corporação, ainda que embrionária e com características muito peculiares.

Mais de 20 anos depois, e o Brasil ainda discute a real viabilidade -e interesse- de profissionalização do futebol. Há discussões, mas geralmente restritas a pequenos grupos.

Há quem diga que o esporte mais querido dos brasileiros jamais deixará de ser provinciano, em termos administrativos, comandado por torcedores apaixonados dispostos a colocar carreira e família em segundo plano apenas pelo amor incondicional que sentem pela instituição, mesmo que para isso não sejam remunerados.

Por outro lado, o grupo dos defensores da profissionalização dos clubes de futebol parece crescer. Essas pessoas têm uma linha central de raciocínio simples: se a empresa para quem trabalho me remunera por isso, por que um clube de futebol não deve fazer o mesmo com seus colaboradores? O futuro dos clubes de futebol passa, invariavelmente, pela profissionalização de sua estrutura administrativa.

Esse processo leva a conquistas esportivas e administrativas, e não há argumento que prove o contrário. Em Porto Alegre, o Sport Club Internacional, por exemplo, conquistou seus principais títulos -Mundial da Fifa e Libertadores da América, ambos em 2006- somente três anos após o início da profissionalização de sua gestão. O time faturou ainda o bicampeonato da Libertadores e voltou ao Mundial em 2010.

O Internacional está fora do eixo econômico Rio-São Paulo. Ainda assim, é um dos três times de futebol com maior faturamento no país -contando com uma torcida que, embora tão ou mais apaixonada que qualquer outra, representa cerca de 20% da massa flamenguista, considerada a maior do Brasil.

A construção de times vitoriosos e a criação de clubes modernos, com estruturas funcionais, passa pelo rearranjo da organização administrativa da entidade. Um leva ao outro, e eis que se estabelece um ciclo virtuoso.

Foi assim, por exemplo, que o São Paulo se tornou um dos times mais vencedores do Brasil nos últimos 20 anos -e a sua gestão virou referência inclusive para rivais- e a marca Santos Futebol Clube ressurgiu com tamanha força desde a década passada. O clube conseguiu até manter no Brasil aquele que é hoje o principal jogador em atividade no país, o atacante Neymar.

Definitivamente, isso não é mera coincidência. Como escreveu o executivo espanhol Ferran Soriano, responsável pela reestruturação do Barcelona entre 2003 e 2008 e hoje no Manchester City, da Inglaterra, "a bola não entra por acaso".

O peso da paixão não pode ser maior do que a racionalidade e o profissionalismo da gestão.

JORGE ANDRÉ AVANCINI, 57, é diretor-executivo de marketing do Sport Club Internacional e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio Grande do Sul (ESPM-RS)

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