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Carlos Heitor Cony

Poluição visual

RIO DE JANEIRO - É com respeito e admiração que ouso discordar, em parte, do texto de Paula Cesarino Costa publicado neste mesmo canto da página A2. Com bom estilo e excelente argumentação, ela aprova o projeto carioca do museu a céu aberto, bolação de nossas autoridades municipais para integrar obras de arte no dia a dia da cidade.

Não discutirei a qualidade das esculturas expostas, dou de barato que elas representam um estágio da arte em nosso tempo. Minha estranheza é pela colocação de esculturas que quebram a paisagem estonteante de uma cidade que, em termos panorâmicos, é considerada a mais bela do mundo.

Exemplo: o Pão de Açúcar, visto da enseada de Botafogo, é um cartão-postal perfeito como paisagem urbana. Ali colocaram, bem no centro, uma escultura que quebra dramaticamente a harmonia do cenário que é uma das logomarcas do próprio Rio.

Roma é uma cidade cheia de estátuas e esculturas. Duas das maiores obras da humanidade podem ser vistas por todos, mas estão em espaços laterais: a "Pietà", no canto direito da basílica de São Pedro, não quebra as linhas de Bramante e do próprio Michelangelo, sem falar nas obras de Bernini que fazem parte do conjunto. O "Moisés", do mesmo gênio toscano, ocupa um canto de São Pedro in Vinculis.

Não faria sentido botar o "Moisés" em plena via Veneto e a "Pietà" na via dei Fori Imperiali, embora com o Coliseu ao fundo. A "Loba Capitolina", símbolo maior da cidade, está quase escondida atrás do monumento a Vitor Emanuel.

Cidades como Roma -que não foi feita num dia, mas é um museu a céu aberto- não precisam de adornos, sejam quais forem.

Mais antiga que Roma, a paisagem do Rio não merece ser quebrada visualmente. É uma estupenda criação da própria natureza.

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