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Guilherme Afif Domingos

TENDÊNCIAS/DEBATES

Engenheiros e capital

Há um apagão de engenheiros no país -nossa tradição é a do bacharelismo. Importá-los pode ser uma solução, mas temos de trazer também os investidores

Em artigo publicado nesta Folha em 27/8, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira escreveu sobre a falta de engenheiros no Brasil. Editorial do mesmo jornal em 11/9 voltou a tratar do tema, defendendo a importação de engenheiros para atender à carência de profissionais.

É notória a falta de engenheiros na produção industrial, na construção civil e nas obras públicas. A solução a curto prazo pode ser a importação de profissionais, mas precisamos pensar nisso como parte de um projeto amplo de desenvolvimento.

Não devemos nos limitar a trazer os "cabeças de obra" (engenheiros, projetistas), mas também aproveitar a situação internacional para atrair capitais externos de risco e tecnologia, formando o tripé: mão de obra, recursos e know-how.

Devemos começar a pensar nisso hoje. Não podemos ficar dependentes de mão de obra e tecnologia importadas se quisermos ser uma nação realmente desenvolvida. Precisamos incentivar a formação de profissionais brasileiros nas áreas exatas, para que possam atender às necessidades do processo produtivo e também desenvolver tecnologia e inovação.

Esse apagão de engenheiros se deve ao fato de que no Brasil, historicamente, cultivou-se estudar ciências humanas e não exatas. Isso em razão das dificuldades impostas pelas exatas, que requerem muita técnica e estudo, e também da valorização do bacharelismo.

Cristalizou-se a ideia de que o estudo de exatas era difícil e enfadonho, o que permeou tanto a cabeça dos estudantes como dos professores, que passaram a "fugir" para as ciências humanas. Por isso, o número de candidatos aos cursos de exatas é proporcionalmente reduzido em relação às oportunidades do mercado de trabalho.

A carência de professores habilitados a lecionar exatas nos ensinos básico e fundamental é outro fator. Em razão dessa mentalidade, o sistema de ensino não responde à oferta de emprego como seria esperado, gerando uma defasagem que pode se constituir em gargalo para a execução de projetos de infraestrutura.

Para um projeto amplo de desenvolvimento do país, com investimento em capital humano e infraestrutura, existe um caminho: as parcerias público-privadas (PPPs), com associações entre os governos e investidores estrangeiros.

As empresas internacionais podem trazer recursos financeiros, tecnologia e pessoal técnico para atuar em obras em parceria com governos. Mas a principal vantagem da PPP é que ela traz investimentos em forma de capital de risco e não de empréstimos. Enquanto o mundo desenvolvido está em crise, o Brasil é um país-continente, que necessita urgentemente atualizar e expandir sua infraestrutura.

A PPP é uma oportunidade para a parceria "ganha-ganha". Ganham as empresas, os governos e o cidadão. Vamos importar capitais, tecnologia e engenheiros com as PPPs e atacar o problema estrutural do ensino das ciências exatas, a fim de que o país possa ser capaz de conduzir seu desenvolvimento. O mundo nos oferece muitas oportunidades no curto prazo, mas o futuro nós precisamos construir a partir de agora. Não há mais tempo a perder.

GUILHERME AFIF DOMINGOS, 69, é vice-governador de São Paulo e preside o Conselho Gestor do Programa Estadual de Parcerias Público-Privadas. Foi secretário do Emprego e Relações do Trabalho de SP (gestão Serra)

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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