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Crise circular

Europa ganha tempo, mas segue prisioneira de um ciclo vicioso de dívidas públicas e privadas; ruptura da zona do euro é muito improvável

As simulações do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre impactos dos planos de ajuste fiscal no crescimento não conduziram propriamente a uma novidade: é receita certa para a recessão a tentativa de reduzir o deficit público no momento em que o setor privado também busca cortar dívidas.

Em geral, quando um país aperta seu orçamento, a autoridade monetária segue no sentido oposto: corta juros e estimula a economia.

Dependendo do nível de dívidas de famílias e empresas, contudo, mesmo a ação do BC pode revelar-se insuficiente. É o que mostra a persistente letargia do crescimento americano, a despeito dos seguidos estímulos por parte do Fed (banco central dos EUA).

Na Europa, o quadro é pior, pois não houve compensação monetária para o corte dos gastos públicos. Os juros cobrados de países da periferia da eurozona permanecem altos por causa do temor quanto a uma ruptura da moeda comum.

Nenhum banco financiará com juros baixos uma empresa da Espanha se acreditar que o país pode abandonar o euro e ter sua dívida convertida numa moeda depreciada. Por isso, a taxa básica de 0,75% do Banco Central Europeu não chega aos tomadores finais.

O resultado é uma recessão profunda, que reduz a receita pública e, num círculo vicioso, esteriliza os esforços de ajuste do orçamento. Nada garante que o pacote draconiano baixado anteontem em Portugal, por exemplo, terá sucesso.

Não por acaso, as previsões de desempenho dos PIBs têm sido todas frustradas. No caso grego, a queda já se aproxima de totalizar 20%, desde o início da crise. A Espanha vai por caminho similar, ainda que menos drástico: seu PIB deve contrair-se 1,5% neste ano.

A União Europeia logra quando muito remediar alguns desses problemas. O Banco Central Europeu se comprometeu a atuar nos mercados de dívida, comprando papéis de governos que aceitem maior supervisão externa (como deve fazer a Espanha).

O objetivo é eliminar o risco de ruptura do euro e, com isso, baixar os juros de curto prazo. O resultado até agora tem sido razoável.

Adiar um desfecho negativo para a Grécia é outro passo importante, para evitar o contágio financeiro que seria deflagrado por sua defecção da zona do euro. Para tanto, espera-se que seja fechado um acordo entre o governo grego e seus credores internacionais para alongar em até dois anos o prazo para que o país cumpra suas duras metas de ajuste fiscal.

São progressos apenas incrementais, para comprar tempo. Um equilíbrio precário, que ainda pode ser rompido por erupções políticas e sociais. Apesar do risco, o cenário extremo de ruptura do euro parece cada vez mais improvável.

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