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Intervenção na Europa

Crise do euro derruba líderes políticos e leva à nomeação de tecnocratas "indicados" por órgãos transnacionais e ligados ao mundo financeiro

Mais um momento agudo de crise na Europa impôs a capitulação dos governos de pelo menos dois países, Grécia e Itália.

Os governantes foram empurrados do poder pela pressão combinada de seus credores, do Banco Central Europeu (BCE), do FMI, da Comissão Europeia e da Alemanha, secundada pela França.

No caso da Grécia, a "chantagem" foi direta: sem o compromisso de lideranças políticas ou de um novo governo com as condições da UE e do FMI, o país não receberia mais empréstimos e teria de declarar inadimplência.

No caso da Itália, a primeira ameaça partiu dos mercados, evidenciada na alta do custo do crédito. Outro constrangimento veio do fato de o governo italiano depender, por ora, de auxílio do BCE -ou, mais adiante, da ajuda do fundo de socorro europeu.

Os dois países foram quase obrigados a aceitar os planos de reformas do Estado e da economia exigidos pela UE e pelo restante desse comitê supranacional composto por credores e organismos multilaterais ligados às finanças.

A Grécia já nomeou um tecnocrata para o posto de primeiro-ministro, caminho que também poderá ser seguido pela Itália, depois de se consumar a renúncia, já anunciada, de Silvio Berlusconi.

Lucas Papademos, o novo premiê grego, presidiu o Banco Central de seu país e foi vice-presidente do BCE de 2002 a 2010. Mario Monti, cotado para governar a Itália, foi comissário europeu por duas décadas.

Conhecidos "eurocratas", ambos são profissional e intelectualmente muito respeitados, assim como estranhos à atividade político-partidária de seus países. Parecem, na realidade, interventores temporários, encarregados de implementar medidas amargas, antes que venham novas eleições gerais.

Como não precisam, em tese, angariar votos para alimentar ambições políticas, seriam os mais aptos a infligir a dor que se anuncia necessária para salvar seus países dos piores efeitos da crise.

Ainda que o cardápio de opções da Grécia e, agora, da Itália tenha se reduzido a pouco mais que o magro prato feito receitado pela UE, não deixa de ser notável que se recorra a "déspotas esclarecidos" na tentativa de evitar a falência econômica de países -e talvez política da Europa.

É sintomático, também, que em meio a esse processo surjam pressões para o adiamento do mecanismo clássico de renovação do poder nas democracias -os processos eleitorais, que, na perspectiva intervencionista, agora "poderiam piorar a crise".

Causa espanto que a escolha de governos nacionais seja, na prática, negociada em gabinetes de autoridades transnacionais e de organismos multilaterais do mundo financeiro -e tudo isso na Europa, não num país falido da América Latina, como acontecia na década de 1980.

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