São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

FHC, o copo e a eleição

SÃO PAULO - Começar o ano repetindo imagem já usada algumas vezes pode ser sinal de coerência ou de preguiça, escolha o leitor. O fato é que não me ocorre metáfora melhor para definir o governo Fernando Henrique Cardoso, ao entrar no seu último ano, do que a do copo que está meio cheio ou meio vazio, conforme o gosto de cada qual.
Ou, se se preferir o depoimento de um amigo próximo do presidente, o filósofo José Arthur Giannotti, havia "uma enorme esperança de que o Fernando iria fazer muito mais do que fez", conforme entrevista de Giannotti a Fernando de Barros e Silva, publicada domingo.
Suspeito que o preenchimento do copo será decisivo para a campanha eleitoral deste ano. Uma fatia importante do eleitorado parece querer preservar o que já está no copo e, ao mesmo tempo, encher o que resta. Candidato que for visto como capaz de fazer uma coisa e a outra tem grandes chances.
Se verdadeira a impressão, o país estará diante de uma mudança importante no humor do público em épocas eleitorais. O mais comum, no Brasil, sempre foi o desejo de começar tudo de novo, de que dão prova os slogans "Nova República", que carregou Tancredo Neves ao poder, ou "Reconstrução Nacional", a "marquetagem" que ajudou a eleger Fernando Collor.
Mesmo que se volte um pouco no tempo, a vassoura, símbolo das campanhas de Jânio Quadros, representava a idéia de varrer tudo o que estava posto. Ajudou-o a ganhar as eleições de 1961.
É razoável supor que Roseana Sarney esteja sendo a principal beneficiária, até agora, desse novo estado d'alma do eleitorado, que quer mais, sim, mas não está disposto a começar tudo do zero.
Mas, como é óbvio, o jogo está ainda nas preliminares. E será, ao que tudo indica, mais sofisticado e mais difícil de ser ganho apenas com "slogans" ou imagens.
PS - Concedo ao leitor merecidas férias, até a edição do dia 29 de janeiro. Feliz Ano Novo.


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