São Paulo, quarta-feira, 01 de janeiro de 2003

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ANO NOVO

Celebra-se hoje, 1º de janeiro, a Confraternização Universal, data mais conhecida simplesmente como Ano Novo. Trata-se de um feriado que, se não chega a ser universal, é o que de mais próximo a isso existe. Se países como Israel e a Etiópia não o comemoram oficialmente, há nações como a China que o celebrarão duas vezes: agora em janeiro e em fevereiro, no ano novo chinês.
No fundo, 1º de janeiro é um feriado para celebrar o calendário, já que a data não se associa a nenhum evento religioso ou histórico. E o calendário, mais do que uma folhinha que mantemos sobre nossas mesas para eventuais consultas, é uma das primeiras marcas da civilização.
Toda sociedade humana um pouco mais sofisticada conta com algum sistema de contagem do tempo. Povos que vivem da agricultura precisam saber quando é tempo de semear e de colher. Sociedades que praticam o comércio precisam de datas para negociar entregas e pagamentos. Quaisquer grupos que possuam um sistema de crenças minimamente articulado precisam ser capazes de calcular as festas religiosas.
Só que contar o tempo nada tem de trivial. Na verdade é uma tarefa complexa, que envolve observação astronômica, cálculos e até negociações políticas. O 1º de janeiro ganhou importância no calendário juliano, que foi adotado no meio do 1º século antes de Cristo. Até então, os romanos celebravam o ano novo em março, segundo o calendário republicano, que tinha por base a Lua, e não o Sol.
No ano que hoje conhecemos como 46 a.C., o astrônomo grego Sosigenes convenceu Júlio César a substituir o velho calendário por outro sistema, mais preciso. Só que não dá para compatibilizar um calendário lunar com um solar. Foi preciso abandonar o modo antigo e adotar um novo. Para fazê-lo mantendo a relação com as estações, Sosigenes introduziu 67 dias extras no ano 46 a.C. Com isso, o ano novo de 45 a.C., que seria em março, caiu em 1º de janeiro. A partir dessa data, os romanos passaram a utilizar um calendário solar, o juliano, que ainda é a base do atual. Sosigenes calculara a duração do ano em 365 dias e 1/4. Para compensar a fração, estabeleceu o ano bissexto. A cada quatro anos, fevereiro ganharia um dia extra.
O sistema funcionou relativamente bem por alguns séculos. O ano calculado por Sosigenes, porém, era longo demais. O ano tropical (solar) tem, na verdade, 365,24199 dias e não 365,25. Com o passar dos séculos, o erro de 11 minutos e 14 segundos por ano foi fazendo com que o os meses deixassem de corresponder às estações. A cada mil anos, o erro acumulado era de sete dias. Isso, em meio a uma intricada polêmica sobre como calcular a data da Páscoa (que obedece ao calendário lunar), levou o papa Gregório 13 a baixar uma bula em 1582 reformando novamente o calendário. Os dez dias de excesso que se haviam acumulado ao longo dos séculos foram simplesmente eliminados. No Ocidente, o dia seguinte ao 5 de outubro de 1582 foi 15 de outubro. E, para prevenir novos erros, determinaram-se mudanças nos anos bissextos. Apenas um de cada quatro anos centuriais (terminados em 00) receberia o dia extra. Assim, 1700, 1800 e 1900 não foram bissextos, mas 2000 foi, por ser divisível por 400. É este calendário, o gregoriano, que vigora até hoje. Também foi ele que fixou definitivamente o 1º de janeiro como a data do Ano Novo.
Para além de cálculos e da própria saga do calendário, que é um pouco a história da civilização, celebra-se, no Ano Novo, a idéia de renovação e a expectativa de que o próximo ano será melhor do que o anterior. Isso nem sempre ocorre, mas é a possibilidade de que venha a ocorrer, a esperança, que motiva as pessoas.



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