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ANO NOVO
Celebra-se hoje, 1º de janeiro,
a Confraternização Universal,
data mais conhecida simplesmente
como Ano Novo. Trata-se de um feriado que, se não chega a ser universal, é o que de mais próximo a isso
existe. Se países como Israel e a Etiópia não o comemoram oficialmente,
há nações como a China que o celebrarão duas vezes: agora em janeiro e
em fevereiro, no ano novo chinês.
No fundo, 1º de janeiro é um feriado para celebrar o calendário, já que
a data não se associa a nenhum evento religioso ou histórico. E o calendário, mais do que uma folhinha que
mantemos sobre nossas mesas para
eventuais consultas, é uma das primeiras marcas da civilização.
Toda sociedade humana um pouco
mais sofisticada conta com algum
sistema de contagem do tempo. Povos que vivem da agricultura precisam saber quando é tempo de semear e de colher. Sociedades que
praticam o comércio precisam de datas para negociar entregas e pagamentos. Quaisquer grupos que possuam um sistema de crenças minimamente articulado precisam ser capazes de calcular as festas religiosas.
Só que contar o tempo nada tem de
trivial. Na verdade é uma tarefa complexa, que envolve observação astronômica, cálculos e até negociações
políticas. O 1º de janeiro ganhou importância no calendário juliano, que
foi adotado no meio do 1º século antes de Cristo. Até então, os romanos
celebravam o ano novo em março,
segundo o calendário republicano,
que tinha por base a Lua, e não o Sol.
No ano que hoje conhecemos como 46 a.C., o astrônomo grego Sosigenes convenceu Júlio César a substituir o velho calendário por outro sistema, mais preciso. Só que não dá
para compatibilizar um calendário
lunar com um solar. Foi preciso
abandonar o modo antigo e adotar
um novo. Para fazê-lo mantendo a
relação com as estações, Sosigenes
introduziu 67 dias extras no ano 46
a.C. Com isso, o ano novo de 45 a.C.,
que seria em março, caiu em 1º de janeiro. A partir dessa data, os romanos passaram a utilizar um calendário solar, o juliano, que ainda é a base
do atual. Sosigenes calculara a duração do ano em 365 dias e 1/4. Para
compensar a fração, estabeleceu o
ano bissexto. A cada quatro anos, fevereiro ganharia um dia extra.
O sistema funcionou relativamente
bem por alguns séculos. O ano calculado por Sosigenes, porém, era
longo demais. O ano tropical (solar)
tem, na verdade, 365,24199 dias e
não 365,25. Com o passar dos séculos, o erro de 11 minutos e 14 segundos por ano foi fazendo com que o
os meses deixassem de corresponder
às estações. A cada mil anos, o erro
acumulado era de sete dias. Isso, em
meio a uma intricada polêmica sobre
como calcular a data da Páscoa (que
obedece ao calendário lunar), levou o
papa Gregório 13 a baixar uma bula
em 1582 reformando novamente o
calendário. Os dez dias de excesso
que se haviam acumulado ao longo
dos séculos foram simplesmente eliminados. No Ocidente, o dia seguinte ao 5 de outubro de 1582 foi 15 de
outubro. E, para prevenir novos erros, determinaram-se mudanças nos
anos bissextos. Apenas um de cada
quatro anos centuriais (terminados
em 00) receberia o dia extra. Assim,
1700, 1800 e 1900 não foram bissextos, mas 2000 foi, por ser divisível
por 400. É este calendário, o gregoriano, que vigora até hoje. Também
foi ele que fixou definitivamente o 1º
de janeiro como a data do Ano Novo.
Para além de cálculos e da própria
saga do calendário, que é um pouco
a história da civilização, celebra-se,
no Ano Novo, a idéia de renovação e
a expectativa de que o próximo ano
será melhor do que o anterior. Isso
nem sempre ocorre, mas é a possibilidade de que venha a ocorrer, a esperança, que motiva as pessoas.
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