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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A lição da lama
Muita gente ainda se encontra
em abrigos, salas de aula, aguardando acomodações melhores após as
chuvas e inundações. Não estávamos
preparados para a força das águas.
É preciso, no entanto, constatar a solicitude dos poderes públicos, atuando com presteza e eficácia em várias
áreas atingidas. Sou testemunha do
empenho da Prefeitura de Mariana
(MG), por exemplo, e da atuação imediata do governador Aécio Neves e de
seus cooperadores para socorrer as cidades em condições de calamidade e
de emergência. Emocionou-me, por
ocasião das chuvas mais intensas, a
chamada telefônica do presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva,
preocupado com as cidades danificadas na arquidiocese. Perguntou-me
sobre o sofrimento do povo e nos assegurou das medidas a serem tomadas para concessão de recursos aos
municípios necessitados. Essa colaboração em vários níveis do governo
marca uma fase promissora para nosso povo, na qual as forças da sociedade e o governo rapidamente se conjugam para promover o bem comum.
As medidas para a restauração das
cidades, incluindo casas, ruas e estradas, são custosas; requerem tempo e,
portanto, perseverança na implementação das decisões governamentais.
Fica, no entanto, a constatação do espírito de união que se manifestou desde as primeiras horas. Deus permita
que essa atitude se concretize, torne-se
constante e prepare nossas conquistas
em benefício da população.
O povo simples marcou presença
desde as primeiras enchentes. As
águas levaram enxurradas de lama para dentro das casas: terra, roupas, móveis despedaçados, sujeira amontoada
e perigo de infecções. Era urgente a remoção de toda essa lama. A prefeitura
funcionou, com os caminhões. Os voluntários entravam nas casas e retiravam com pás o entulho, horas a fio,
madrugada adentro, sem descanso.
Foi uma demonstração nunca vista de
solidariedade. Um morador cuja casa
foi toda invadida pelos detritos dizia
que jamais imaginara que tanta gente
boa viria ajudá-lo. Limparam durante
horas seu lar. Refletindo sobre o que
via e vivia, afirmou que até então não
se incomodara com as vítimas de enchentes, mas agora seria o primeiro a
correr para auxiliar os outros que tinham vindo salvar seus pertences. São
gestos de solidariedade que comovem
e convertem.
Muita gente veio trazer roupas e comida para os centros de atendimento.
De longe chegaram caminhões de outras cidades. As famílias, pouco a pouco, vão se ajeitando. Resta muito por
fazer. E agora? É preciso aprender essa
lição tão bela de auxílio fraterno, a fim
de reconstruir as casas e dar aos atingidos, o quanto antes, condições de
trabalho e sobrevivência.
Um evento tão doloroso como o das
enchentes e inundações pode se tornar o início de uma cooperação maior
entre as famílias, as organizações da
sociedade e o poder público.
Vai progredindo no Brasil o programa Fome Zero e surgem muitas iniciativas para erradicar a miséria.
Deus seja louvado. Lembremo-nos,
no entanto, de que a superação da fome requer de todos nós mudar de
mentalidade e converter o coração.
Temos que renunciar ao consumismo, ao desperdício e à acumulação
abusiva de bens. Mais. É preciso descobrir a alegria cristã da partilha e a
coragem de entrar na lama para ajudar o próximo, salvar-lhe a vida e os
pertences.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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