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MARIA SYLVIA CARVALHO FRANCO
Populismo: direita ou esquerda?
A REFLEXÃO sobre o populismo na Europa afiou-se com
a ascensão dos partidos de
direita, sem golpes de força e com
notável desempenho eleitoral. As
causas desse fenômeno são colhidas, pelos que o estudam, na fictícia negação dos confrontos políticos, correlata ao consenso "para
além da direita e da esquerda". Essa "Terceira Via" tentou conciliar
eficiência econômica com igualdade e justiça social, minorando as
seqüelas do setor financeiro hegemônico e da "estabilidade com
crescimento sustentável". O desfecho foram retração econômica, desemprego, queda na renda, peso de
impostos, "flexibilização" das relações de trabalho, insegurança pessoal e pública, propiciando o declínio democrático e o controle político da ansiedade e das frustrações.
O discurso despolitizado e a fantasia da pacificação social dissolvem as lutas reais e retiram da esfera pública as decisões de alcance
coletivo. O slogan é "governabilidade e coalizão partidária", sacralizando o consenso na "política sem
adversários" (De Voos). O campo
conflituoso entranha-se na massa
de insatisfações e carências, fonte
do populismo de direita. "Quando a
política democrática se limita a assegurar o bom funcionamento do
mercado, estão reunidas as condições para que demagogos talentosos exprimam as frustrações populares" (C. Mouffe). Surge, aí, o fantasma do "inimigo interno" (C.
Schmitt).
O mesmo feixe econômico, sociopolítico e doutrinário desdobra-se no Brasil. Lula quer governar
"sem oposição", a esquerda é doença juvenil, o centro é equilibrado.
Todos "amadureceram": figuras do
regime militar aliam-se a seus opositores, hoje no poder. Para atenuar a rude dominação, Lula expandiu as "solidariedades" de
FHC. Dilatadas, surtiram votos,
unindo-se à projeção, no líder, "das
camadas C e D", cujo ressentimento açulou-se "mexendo na auto-estima das pessoas". J. Santana lança
temas "de imensa comoção política" -a mística nacionalista-, "utilizados do ponto de vista tático", visando "o brasileiro comum", a classe média que decidiu o 2º turno.
Esse nacionalismo foi temperado
pelo preconceito às avessas, pela
exploração das fronteiras culturais, iluminando o migrante desvalido. Note-se que a direita européia
camufla o racismo acentuando as
diferenças culturais e os óbices à
integração social. A categoria política "povo" é forjada contra "o outro", encarnação do mal. O oprimido é vítima das "elites", o demagogo é voz do pequeno ("kleiner
Mann", Haider, Áustria), tal como
Lula comemorou, em sua fala inaugural, a vitória do "andar de baixo".
O populismo moderno, "globalizado", mobiliza ideários análogos,
complexo cujo peso negativo é
agravado por nossa condição "colonial".
sylvia.franco@uol.com.br
MARIA SYLVIA CARVALHO FRANCO escreve às
quintas-feiras nesta coluna.
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