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CLÓVIS ROSSI
Não é tsunami, há culpados
DAVOS - Tudo bem que usar a palavra "tsunami" para descrever a
crise econômica pode ser uma maneira eventualmente útil de reforçar o verbo nestes tempos de tanta
cacofonia que é preciso gritar para
ser ouvido.
Mas carrega o risco de dar a entender que a crise, como o tsunami,
é um fenômeno natural pelo qual
ninguém é culpado, a não ser a natureza ou Deus, de acordo com a
crença de cada qual.
Não é assim. A crise tem culpados
que deveriam estar sendo ansiosamente procurados, o que não ocorre. Como tampouco ocorre o mais
leve sinal de mea culpa de parte dos
responsáveis.
É possível que, nesta altura do jogo, seja mais importante retirar a
bala do peito da vítima do que procurar quem disparou. Ok. Mas deixar de fazê-lo cria dois riscos: o de
que o atirador continue disparando
enquanto a vítima sangra e/ou o de
que volte a fazê-lo tão logo seja domada a crise.
Do meu ponto de vista, a crise é
produto da deificação do mercado,
como onipotente, onisciente e, portanto, infalível. Como disse na posse o presidente Barack Obama, que
não pode ser acusado de antimercado, o livre mercado é ótimo para
criar riquezas, mas precisa de um
"olho vigilante" para evitar seus
abusos.
Nas condições atuais de temperatura e pressão, esse olho vigilante
tem necessariamente que ser global, o que não é uma fenomenal
descoberta minha, mas uma pregação reiterada de parte de líderes como Gordon Brown e Angela Merkel, que tampouco podem ser acusados de comunistas.
Trata-se na essência de uma
questão política, não econômica. E
a pergunta seguinte inevitável é esta: dispõe o mundo de líderes suficientemente corajosos para pôr um
olho vigilante no até agora onipotente mercado e suficientemente
competentes para que o olho não
seja vesgo ou míope?
crossi@uol.com.br
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