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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Que esquerda é essa?
SÃO PAULO - Como retrato da esquerda, o Fórum Social Mundial
nos oferece uma imagem melancólica. De um lado, o evento, encerrado ontem, se presta a ser um palco
de aclamação do lulismo; de outro,
reitera sem mais dogmas anticapitalistas, fazendo tabula rasa do legado ruinoso dos experimentos coletivistas do século 20.
Em sua 10ª edição, o fórum agrega uma esquerda que transita entre
o novo pragmatismo e a utopia de
antigamente, sem que se detenha
na crítica de nenhum dos polos.
Adesista e fundamentalista ao mesmo tempo, essa esquerda age como
quem quer usufruir todos os benefícios possíveis deste mundo (lulista), sem prejuízo de manter intacto
o clichê do "outro mundo possível".
Entre o radicalismo vazio e o apego ao poder, haveria uma trilha menos cômoda. Algo como o compromisso com a redução das desigualdades, com o combate à corrupção
em todas as suas formas e a defesa
da democracia e do pluralismo -tudo combinado numa perspectiva
reformista, que se paute pelo realismo sem abrir mão de princípios.
Não é isso, como se sabe, o que seduz os funcionários da utopia. Mas
que esquerda é essa que vira as costas aos estudantes venezuelanos e
não se manifesta contra a escalada
autoritária de Chávez? Que esquerda é essa, para quem o mensalão
não existiu ou acha que "a vida é assim mesmo"? Que esquerda é essa,
capaz de defender a barba de Fidel
Castro e o bigode de José Sarney?
Não há dúvida de que existe uma
maioria bem intencionada entre os
participantes do fórum. Mas o
evento se tornou coisa de profissionais. Com raríssimas exceções, os
intelectuais que contam não perdem mais tempo por lá. Restou um
lúmpen "pensante" que fez do fórum o seu negócio. Gente, aliás, que
cansou de esperar Godot e hoje enche as burras à custa do lulismo. São
parasitas do Estado que adoram
ressuscitar o fantasma neoliberal
diante de plateias embasbacadas
para manter viva a sua boquinha.
Será possível ainda ser de esquerda
sem parecer idiota ou espertalhão?
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