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RUY CASTRO
Morrer de prazer
RIO DE JANEIRO - No outro domingo, o Mais! pediu aos entendidos que citassem sequências marcantes do cinema. O resultado
apontou as inevitáveis -a da escadaria em "O Encouraçado Potemkin", a da morte de Annie Girardot
em "Rocco e Seus Irmãos", a do
corte do osso para a nave em
"2001"- e outras menos lembradas, todas de filmes "clássicos".
Fui um pouco discrepante, escolhendo uma sequência de "O Homem do Sputnik", uma chanchada
nacional, gênero extinto há 50 anos
e ainda meio visto como vira-lata,
mas de encantos mil para mim e
para o Sérgio Augusto. Poderia ter
citado também Oscarito e Grande
Otelo como Romeu e Julieta em
"Aviso aos Navegantes" (1951).
O duro é escolher uma sequência
entre milhares. Talvez por óbvias,
ninguém se lembrou de Gene Kelly
cantando na chuva ou de Dooley
Wilson carbonizando corações
com "As Time Goes By" em "Casablanca". Mas, e Harold Lloyd escalando o edifício e se pendurando no
relógio em "O Homem-Mosca"
(1923)? E Maurice Chevalier saindo para a farra em "A Viúva Alegre"
(1934)? E o duelo a espadas entre
Stewart Granger e Mel Ferrer em
"Scaramouche" (1952)? E a luta a
socos entre Alan Ladd e Van Heflin,
em meio aos cavalos, em "Os Brutos Também Amam" (1953)?
E o que dizer da sequência inicial
de "Meu Tio" (1958), com os meninos e os cachorros pelas ruas? De
Silvana Mangano com água pelas
pernas em "Arroz Amargo" (1949)?
Da primeira aparição de Orson Welles em "O Terceiro Homem"
(1949)? De Cyd Charisse descobrindo o capitalismo em "Meias de
Seda" (1957)? Ou de Mario Reis,
maravilhoso, cantando "Cadê Mimi?" em "Alô, Alô, Carnaval!"
(1935)? E muitas mais.
Hoje, com o DVD, é possível assistir a essas e a todas as outras numa única sessão. Corre-se apenas o
risco de morrer de prazer.
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